Passa o tempo

Creio que a prodigalidade tem me acompanhado há muito tempo, pelo menos desde o momento em que tomei consciência da transitoriedade da vida. Por algum motivo, antes oculto e agora revelado, pensava que não era certo viver para economizar qualquer espécie de coisa.

Diante de uma dúvida sobre que decisão tomar ou qual o melhor caminho a seguir, a minha reflexão girava em torno dessa pergunta: "Se esse fosse o último dia de minha vida, o que eu escolheria?"
Daí que muitas de minhas escolhas podem ter sido por demais precipitadas, uma vez que continuo a percorrer os dias sabe-se lá Deus até quando.

Estando certos de que um determinado dia de nossas vidas seria o último, provavelmente nos tornaríamos pródigos, quer para gastar mais dinheiro, quer para demonstrar afetos ou esbanjar aquilo que economizamos ou reprimimos por medo ou orgulho. 

A efemeridade da vida deixa-me de mãos dadas com a prodigalidade e a avareza, de modo que, de um jeito ou de outro, não há como fugir do inferno dantesco. E em sendo uma só pessoa a cometer dois pecados tão graves, ainda que opostos, ocuparia dois pontos do mesmo círculo a debater peito a peito comigo mesma. No entanto, nada impede que um mesmo indivíduo pague duas ou até mais vezes pelas suas falhas, desde que não haja infringência ao ne bis in idem. Isso eu jamais admitiria, pois que o estudo do Direito tem que me servir nem que seja para advogar em causa própria.

Os que me conhecem devem estar se perguntando a que tipo de avareza me refiro, pois que essa descoberta é uma surpresa até para mim mesma.

Acontece que tenho economizado bastante aquilo que considero ser mais precioso na vida.

Experimento um apego tão grande ao meu tempo, que não quero gastá-lo à toa. Em decorrência, sinto que só tenho a oferecer, àqueles que me exigem, uma espécie de presença modesta e discreta. Nada tenho contra ninguém, apenas quero gozar silenciosamente daquilo que mais nos escapa quando estamos distraídos.

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