Por que escrevo.
Por que escrevo? Essa é uma pergunta que parece não possuir respostas absolutas e levanta inúmeras hipóteses. No entanto, procuro encontrar dentro de mim algum eco que configure pelo menos um indício para entender o motivo de dedicar horas da minha vida ao ofício de escrever.
O desejo de escrever nasceu com o hábito da leitura. Aprendi a ler aos quatro anos e aos sete inventava histórias, algumas delas infindáveis. Inclusive, aos dez anos de idade, tinha um diário no qual escrevia sobre gostos, preferências, fé, amor e acontecimentos dos mais diversos. Portanto, escrevo para exercitar a criatividade e a inventividade.
Mais tarde passei a escrever cartas a um homem que fazia brotar na adolescente que eu era os sentimentos mais puros e sinceros. Eram sentimentos de amor que, somente mais tarde, eu entenderia por haver perdido a inocência.
Sempre escrevi, quer trechos retirados de livros, quer pensamentos próprios. Os cadernos de anotações me acompanharam e ainda hoje os tenho aos montes como se fossem amigos prontos a me ouvirem a qualquer momento, seja para falar de alegrias, amores, tristezas ou dores.
Escrever é dizer coisas de um jeito que a fala jamais alcançaria. Quando escrevo ordeno o pensamento sem qualquer interrupção e posiciono as palavras à minha maneira, imprimindo no texto um estilo próprio, de modo a transformar acontecimentos simples do cotidiano em algo dotado de requinte e beleza. Escrevo porque valorizo a estética.
Escrever é procurar entender a si mesmo e o mundo em que se vive, consciente de que essa busca se faz aos poucos e continuamente. É estabelecer uma comunicação com o outro ser apesar das distâncias.
Escrever é um modo de me ver fora de mim, de ter acesso a momentos que, embora não representem a realidade de agora, fizeram parte da minha história. Escrever também é vida que se faz sob diferentes perspectivas. É aguçar o olhar, dar movimento a coisas inanimadas, transformar momentos tristes em algo grandioso e belo.
Escrever é refletir sobre o passado, ressignificá-lo e torná-lo mais bonito, ainda que por meio da escolha de palavras mais delicadas. Escrever é prever o futuro. É dar formato a sentimentos e emoções presentes.
É também uma forma de estranhamento. De onde nasceu essa ideia? Fui eu mesma que escrevi? Inclusive é um meio de acessar mais intimamente a si próprio e, por consequência, também o outro.
Escrever parece brotar de uma incontrolável necessidade de ser. Quando se pega o gosto por esse ofício é quase impossível abandoná-lo. Escrever é um eterno descobrir. É ter contato com as várias faces e fases que nos habitam. É uma incessante caminhada para se conhecer e a partir daí tocar o outro com mais cuidado.
Escrevo porque essa arte me faz feliz e, por um instante, satisfeita. Escrevo para gozar de um esvaziamento e, depois, ser novamente invadida por uma enchente de palavras, as quais utilizo com a emoção de um milagre.
Escrevo porque há vaidade em mim. Escrever é um atestado de capacidade do intelecto. E porque acho bonito fabricar textos e exibi-los ao mundo. Escrevo para me mostrar ou me ocultar nas entrelinhas. Escrevo porque amo brincar de caçar palavras e manuseá-las, trocá-las, reposicioná-las e me servir delas ao meu bel-prazer.
Escrever é um ofício de liberdade e, no meu caso, também de autenticidade. Escrevo por provocação e raiva e revolta e amor. Escrevo para exprimir o que não consigo fazer por outros meios. E para expressar a alegria que me toma ao conceber uma nova ideia.
Escrevo porque tenho sentidos que captam o movimento da vida e não consigo ser indiferente a eles. Escrevo porque encontro nesse ato um prazer mais que sexual e porque escrever é sensual. Escrevo para dizer, expor e interpretar. Escrevo para não cair em desordem e dar significado aos fatos que permaneceriam ocultos se eu não lhes revelassem. Escrevo porque é da minha natureza e faz parte de mim.
Escrevo por ousadia, orgulho, intuição e dom. Escrevo para me conectar com o Verbo que se faz texto e me leva a inventar um mundo que, se não é tão perfeito quanto aquele esculpido por Deus, é a mais ingênua tentativa de imitar o Criador.
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