A Arte de Escrever, de Arthur Schopenhauer
Schopenhauer é um filósofo alemão do século XIX que dedicou toda a sua vida ao estudo e desenvolvimento de seu próprio pensamento. Seu pai o financiou a uma viagem pela Europa para que ele adquirisse conhecimentos sobre comércio a fim de dar seguimento aos negócios da família.
Contudo, o que chamou a atenção do filho durante essas viagens foram as misérias humanas avistadas.
Queria mergulhar na Filosofia, entender do mundo e do homem, então aproveitou a bondade do pai em lhe oferecer condição econômica confortável e se permitiu viver o ócio criativo de que tanto falara, a fim de estudar e produzir importantes obras.
A arte de escrever foi retirado de seu livro Parerga e Paraliponema, que quer dizer acessórios e remanescentes, e trata-se de uma crítica ao rebuscamento linguístico dos eruditos de seu tempo, que nada mais é que falar para o público de forma difícil como maneira de disfarçar que são maus escritores. "Em tudo o que eles escrevem, percebe-se que pretendem parecer que têm algo a dizer, quando não têm nada".
Para Schopenhauer, esse requintamento estilístico cheio de falta de clareza, prolixidade, neologismos, ininteligibilidade "seriam indícios de uma tentativa de dar aparência erudita e profunda a textos sem conteúdo".
Lembro que quando estudava o ensino fundamental e também o médio tinha uma aula de Filosofia por semana e o que todos nós alunos comentávamos é que não entendíamos nada do que era falado nessas aulas. Dizíamos que os filósofos "viajavam na maionese" e que o nosso professor de Filosofia viajava mais ainda. Odiávamos a aula, achávamos ela inútil porque realmente não entendíamos nada. Graças a Deus, hoje compreendo de que trata a Filosofia e tenho elevada estima por esse campo do saber.
Schopenhauer defende uma forma simples e concisa de escrever: "...deve-se evitar toda prolixidade e todo entrelaçamento de observações que não valem o esforço da leitura. É preciso ser econômico com o tempo, a dedicação e a paciência do leitor, de modo a receber dele o crédito de considerar o que foi escrito digno de uma leitura atenta e capaz de recompensar o esforço empregado nela".
O que ele sustenta é que os escritores tenham respeito para com o leitor, pois a autor deve dialogar com quem o lê, respeitar suas limitações e seu tempo. O escritor precisa dar a recompensa ao leitor por se dedicar a sua obra e essa recompensa pode ser em forma de algo prazeroso e não complicado de se ler. O leitor espera do escritor um mínimo de lealdade.
O escritor precisa tratar os assuntos de modo claro e direto sem, entretanto, perder o seu estilo, a sua originalidade. "Um bom escritor pode tornar interessante mesmo o assunto mais difícil".
Schopenhauer critica a quantidade e variedade de estabelecimentos de ensino e de aprendizado, bem como o grande número de professores e alunos. Para ele, isso poderia dar a falsa impressão de que a espécie humana dá importância à instrução e à verdade. Mas é tudo aparência, pois os professores ensinam para ganhar dinheiro e não se esforçam pela sabedoria, enquanto os alunos não aprendem para ganhar conhecimento e se instruir, mas para poder tagarelar e para ganhar ares de importantes.
"A cada trinta anos, desponta no mundo uma nova geração, pessoas que não sabem nada e agora devoram os resultados do saber humano acumulado durante milênios, de modo sumário e apressado, depois querem ser mais espertas do que todo o passado".
Esse pensamento cai como uma luva nessa Era da Informação, onde as pessoas leem pouco, se debruçam superficialmente sobre tudo e não sabem de nada. E, pior, não admitem que não sabem, nunca leram sequer um livro e discordam de Shakespeare, de Schopenhauer, de Goethe.
Temos muitos interessados em novas e breves informações que lhes dão raso conhecimento. Hoje, todo mundo emite juízo sobre tudo sem estar devidamente instruído sobre nada. Ignoram todo conhecimento tradicional acumulado ao longo dos séculos. A tônica agora é "eu discordo", "é tudo convenção social", "eu acho isso", "minha opinião é essa". Com base em que discordam não sei. Provavelmente, em suas vastas experiências acumuladas ao longo de trinta aninhos. Calemos diante da burrice. Ela existe, mas evidenciá-la é um crime.
Schopenhauer defende que alguém que se debruça ao conhecimento deve ter o saber como meta a fim de se manter a imparcialidade. Para ele, uma obra só alcança a excelência se ela for produzida como um fim em si mesma.Você pode até ser premiado por uma obra, ganhar muito dinheiro por ela, ser reconhecido, e isso são consequências, mas não deve ser seu objetivo quando resolve criá-la.
Há os que exercem uma ciência ou arte por amor a ela, por alegria, pelo deleite e há os que a exerce por dinheiro, como "uma boa vaca que lhes fornece leite". Há os que vivem de arte e os que vivem para a arte e há entre eles uma distância abismal.
Entretanto, o público tende a dar credibilidade aqueles que "vivem de". É preciso ter um diploma para que acreditem em você. É preciso apresentar seus títulos. É necessário provar que é um especialista.
Se você diz a alguém que passou vinte anos estudando vida e obra de Schopenhauer só vão te contratar para falar a respeito se você apresentar sua tese de doutorado. Ter vivido para estudar vida e obra de Schopenhauer por amor a este saber provavelmente não lhe renderá muitos créditos, porque só um tolo dedicaria tanto tempo a algo em troco de nada. Afinal, é mais importante parecer do que ser. Infelizmente, é assim leitores.
"Todos estão pensando em si próprios, procurando reconhecimento e poder para si, sem nenhuma consideração pelo bem comum". E é esse egoísmo que nos arruína.
Aquele que se destaca como uma cabeça pensante representa um perigo a todos. É assim nas artes, na política e nas empresas. Ou você nunca teve de lidar com alguém que percebeu que você era mais competente e inteligente que ele e teve medo de perder o lugar para você? Pois bem, a insegurança dele não o fará mais inteligente, mas o que importa para ele é continuar auferindo os lucros por aquilo que não é. Vaidade das vaidades! Tudo é vaidade.
Schopenhauer defende o desenvolvimento do pensamento próprio. O homem tem que pensar com sua própria cabeça, formular pensamentos, refletir sobre o que acontece e não recriar o pensamento do outro por meio de palavras próprias que muitas vezes chega a empobrecer um texto original. "Só se sabe aquilo sobre o que se pensou com profundidade".
Ele critica os leitores vorazes, pois defende que ler muitos livros faz com que pensemos com a cabeça dos outros. Mas, não descarta a leitura de bons livros de autores que realmente entendem do assunto e têm algo a dizer, pois para ele só se deve escrever se, de fato, tivermos algo para dizer e esse dizer deve ser simples, conciso, direto, distante de toda prolixidade e de exageros. Se podemos utilizar palavras ao alcance de todos, por que complicar? Os verdadeiros escritores não estão preocupados em demonstrar conhecimentos excepcionais, apenas em deixar claro o que eles têm a expor. É na simplicidade que reside a verdade.
Entretanto, quem desenvolve o pensamento próprio pode encontrar nos livros opiniões de autores que apenas confirmam e fortalecem seu pensamento. Portanto, os livros são de grande valia, mas pensar por si mesmo é simplesmente magnífico. "Porém, mesmo uma grande inteligência não é capaz de pensar por si mesmo a todo momento". Quem nunca leu um livro e concluiu: "penso exatamente assim"?
Quem deseja escrever deve-o fazer de modo simples, claro, conciso, desembaraçoso, pois "quem escreve de maneira displiscente confessa com isso, antes de tudo, que ele mesmo não atribui valor a seus pensamentos".
Schopenhauer dá grande importância e respeito ao tempo do leitor e aconselha-o a largar um livro assim que perceber o quanto ele é ruim ou de difícil entendimento, pois não se tem tempo a perder com aquilo que não nos acrescenta coisa alguma. O escritor deve respeitar o leitor e procurar escrever com elegância e clareza. "Um estilo descuidado, negligente e ruim demonstra um menosprezo pelo leitor".
O escritor que realmente tem algo a dizer procurará expressar suas ideias e pensamentos da forma mais evidente possível, evitando deixar o leitor no escuro.
O filósofo aconselha a leitura dos clássicos e utiliza-se do seguinte pensamento para defender o seu posicionamento: "Leiam com afinco os antigos , os verdadeiros e autênticos antigos: o que os modernos dizem sobre eles não significam muito".
Sou obrigada a concordar com ele e também vos aconselho a dar aos livros clássicos o valor que eles merecem (expliquei o que é um clássico no texto sobre Hamlet). Atualmente, surgem novidades a todo instante. As livrarias estão abarrotadas de livros, mas é necessário que sejamos seletivos ao escolhermos os livros que levaremos para casa. Nem tudo que é novo é bom. E nem tudo que é antigo é ruim. Às vezes, o que precisamos saber já foi escrito há vários séculos por escritores que dedicaram toda sua vida a um determinado estudo ou conhecimento.
Não concordo com aqueles que nos dizem para lermos qualquer coisa que nos aparece. Precisamos ser exigentes e não devemos gastar nosso precioso tempo com quem não tem nada de proveitoso a nos dizer.
"É inacreditável a tolice e a perversidade do público que deixa de ler os espíritos mais nobres e mais raros de cada gênero, de todos os tempos e lugares, para ler as besteiras escritas por cabeças banais que aparecem diariamente, que se espalham a cada ano em grande quantidade, como moscas. E isso apenas porque foram publicados hoje e sua tinta ainda está fresca. Na verdade, esses produtos deveriam ser abandonados e desprezados já no dia de seu nascimento, como serão após poucos anos, e então para sempre, reduzindo-se a um mero assunto para que se ria dos tempos passados e de suas balelas". O que é ruim deve ser criticado e descartado. Pena que hoje não se pode criticar absolutamente nada e isso dificulta aquele que escreve saber que o que escreve é péssimo e deve ser reformulado ou jogado na lata do lixo. A abolição da crítica nos lega a todo instante tudo que não presta e isso é simplesmente danoso.
Então, meus leitores, cuidado com as novidades e as modinhas que aparecem por aí. Sejam cautelosos e respeitem a si mesmos. Não deixem ser enganados por aqueles que só escrevem porque precisam de dinheiro, "de uma vaca que lhes produza leite". Escolham os melhores livros, aqueles que lhes ajudarão a enfrentar essa existência tantas vezes penosa.
A companhia de um livro pode ser a coisa mais prazerosa, mas livros chatos são como pessoas chatas. Livrem-se deles! Ah, e delas também.
"Não há nenhum conforto maior para o espírito do que a leitura dos clássicos antigos: logo que uma pessoa tem em mãos qualquer um deles, mesmo que seja por meia hora, sente-se imediatamente renovado, aliviado, purificado, elevado e fortalecido; é como se tivesse bebido de uma fonte de água fresca em meio aos rochedos".
Também é assim que me sinto sempre que estou na companhia de um bom livro. Os livros me fortalecem e me renovam. Esses são sentimentos que pouquíssimas pessoas me despertam. Digo que os melhores conselhos e ensinamentos foram aqueles que meus amigos livros me passaram. Tenho amor, respeito e gratidão por eles.
"A cultura espiritual elevada nos leva gradativamente a encontrar prazer apenas nos livros, não mais nos homens".
Infelizmente, nosso país não é um país de leitores. Confesso que resolvi criar esse blog para poder falar sobre os livros que leio, porque vejo ao meu redor escassas pessoas que se interessam por esse assunto.
A maioria das pessoas estão interessadas em falar de si mesmas, ainda que suas vidas sejam enfadonhas e desinteressantes. Ou, estão interessadas em falar dos outros, o que é pior ainda. Por isso, quase sempre prefiro me deslocar a lugares recônditos na companhia de um bom livro.
Perguntaram-me se isso não me torna uma pessoa intolerante. Eu repassei a pergunta: "Você me acha intolerante?" Graças a Deus, a pessoa teve grande misericórdia de mim e disse não.
Sou mesmo intolerante? Sinto-me incapaz de responder, pois somos péssimos julgadores de nós mesmos. Na verdade, penso que não tenho externado muito minhas intolerâncias. Engulo-as a seco.
A maioria dos grandes escritores sofreram na miséria e na pobreza e não foram reconhecidos na época em que escreveram suas grandes obras. Geralmente, a fama, a honra e a riqueza são reservados aos indignos.
Na música, isso é uma evidência. Enquanto os bons cantores não conseguem espaço para se apresentarem, os desafinados invadiram todos os palcos e, pior, nossos ouvidos. A TV está entupida de péssimos atores. Os antigos estão sendo mandados embora porque só há espaço para o novo. Não há mais espaço para os antigos. Os atores de quarenta anos ou mais que restaram fazem papel de jovens de 20. Simplesmente, ridículo. O culto à juventude, às modinhas e ao que é novo só nos torna cada vez mais infantis e imbecilizados.
Precisamos retornar às tradições e aos clássicos e a dar valor ao que realmente é capaz de provocar algo de interessante e proveitoso em nós. Devemos recusar tudo aquilo que é de péssimo gosto e que nos empobrece como espíritos que somos. Nosso corpo precisa de uma dieta restrita, com alimentos capazes de nutrir nossas células, assim como nosso espírito necessita se esvaziar de todo excesso para se nutrir do que realmente é capaz de nos transformar no melhor que podemos ser.
Peço desculpas, meus leitores, se apesar do esforço não tornei essa exposição tão clara quanto poderia ser. Prometo que tentarei a cada texto tornar minhas ideias mais simples, evidentes e concisas. Sei que disse coisas duras, mas Schopenhauer não me aliviou e não pude aliviá-los também. A compreensão de vocês é essencial para que eu continue a escrever.
Busquei com esse livro aprender a escrever com respeito a vocês que reservam parte de seus precisos tempos para ler minhas palavras. Meus cumprimentos a todos. Agora, preciso despedir-me para pensar e refletir ainda mais sobre tudo que li.
Contudo, o que chamou a atenção do filho durante essas viagens foram as misérias humanas avistadas.
Queria mergulhar na Filosofia, entender do mundo e do homem, então aproveitou a bondade do pai em lhe oferecer condição econômica confortável e se permitiu viver o ócio criativo de que tanto falara, a fim de estudar e produzir importantes obras.
A arte de escrever foi retirado de seu livro Parerga e Paraliponema, que quer dizer acessórios e remanescentes, e trata-se de uma crítica ao rebuscamento linguístico dos eruditos de seu tempo, que nada mais é que falar para o público de forma difícil como maneira de disfarçar que são maus escritores. "Em tudo o que eles escrevem, percebe-se que pretendem parecer que têm algo a dizer, quando não têm nada".
Para Schopenhauer, esse requintamento estilístico cheio de falta de clareza, prolixidade, neologismos, ininteligibilidade "seriam indícios de uma tentativa de dar aparência erudita e profunda a textos sem conteúdo".
Lembro que quando estudava o ensino fundamental e também o médio tinha uma aula de Filosofia por semana e o que todos nós alunos comentávamos é que não entendíamos nada do que era falado nessas aulas. Dizíamos que os filósofos "viajavam na maionese" e que o nosso professor de Filosofia viajava mais ainda. Odiávamos a aula, achávamos ela inútil porque realmente não entendíamos nada. Graças a Deus, hoje compreendo de que trata a Filosofia e tenho elevada estima por esse campo do saber.
Schopenhauer defende uma forma simples e concisa de escrever: "...deve-se evitar toda prolixidade e todo entrelaçamento de observações que não valem o esforço da leitura. É preciso ser econômico com o tempo, a dedicação e a paciência do leitor, de modo a receber dele o crédito de considerar o que foi escrito digno de uma leitura atenta e capaz de recompensar o esforço empregado nela".
O que ele sustenta é que os escritores tenham respeito para com o leitor, pois a autor deve dialogar com quem o lê, respeitar suas limitações e seu tempo. O escritor precisa dar a recompensa ao leitor por se dedicar a sua obra e essa recompensa pode ser em forma de algo prazeroso e não complicado de se ler. O leitor espera do escritor um mínimo de lealdade.
O escritor precisa tratar os assuntos de modo claro e direto sem, entretanto, perder o seu estilo, a sua originalidade. "Um bom escritor pode tornar interessante mesmo o assunto mais difícil".
Schopenhauer critica a quantidade e variedade de estabelecimentos de ensino e de aprendizado, bem como o grande número de professores e alunos. Para ele, isso poderia dar a falsa impressão de que a espécie humana dá importância à instrução e à verdade. Mas é tudo aparência, pois os professores ensinam para ganhar dinheiro e não se esforçam pela sabedoria, enquanto os alunos não aprendem para ganhar conhecimento e se instruir, mas para poder tagarelar e para ganhar ares de importantes.
"A cada trinta anos, desponta no mundo uma nova geração, pessoas que não sabem nada e agora devoram os resultados do saber humano acumulado durante milênios, de modo sumário e apressado, depois querem ser mais espertas do que todo o passado".
Esse pensamento cai como uma luva nessa Era da Informação, onde as pessoas leem pouco, se debruçam superficialmente sobre tudo e não sabem de nada. E, pior, não admitem que não sabem, nunca leram sequer um livro e discordam de Shakespeare, de Schopenhauer, de Goethe.
Temos muitos interessados em novas e breves informações que lhes dão raso conhecimento. Hoje, todo mundo emite juízo sobre tudo sem estar devidamente instruído sobre nada. Ignoram todo conhecimento tradicional acumulado ao longo dos séculos. A tônica agora é "eu discordo", "é tudo convenção social", "eu acho isso", "minha opinião é essa". Com base em que discordam não sei. Provavelmente, em suas vastas experiências acumuladas ao longo de trinta aninhos. Calemos diante da burrice. Ela existe, mas evidenciá-la é um crime.
Schopenhauer defende que alguém que se debruça ao conhecimento deve ter o saber como meta a fim de se manter a imparcialidade. Para ele, uma obra só alcança a excelência se ela for produzida como um fim em si mesma.Você pode até ser premiado por uma obra, ganhar muito dinheiro por ela, ser reconhecido, e isso são consequências, mas não deve ser seu objetivo quando resolve criá-la.
Há os que exercem uma ciência ou arte por amor a ela, por alegria, pelo deleite e há os que a exerce por dinheiro, como "uma boa vaca que lhes fornece leite". Há os que vivem de arte e os que vivem para a arte e há entre eles uma distância abismal.
Entretanto, o público tende a dar credibilidade aqueles que "vivem de". É preciso ter um diploma para que acreditem em você. É preciso apresentar seus títulos. É necessário provar que é um especialista.
Se você diz a alguém que passou vinte anos estudando vida e obra de Schopenhauer só vão te contratar para falar a respeito se você apresentar sua tese de doutorado. Ter vivido para estudar vida e obra de Schopenhauer por amor a este saber provavelmente não lhe renderá muitos créditos, porque só um tolo dedicaria tanto tempo a algo em troco de nada. Afinal, é mais importante parecer do que ser. Infelizmente, é assim leitores.
"Todos estão pensando em si próprios, procurando reconhecimento e poder para si, sem nenhuma consideração pelo bem comum". E é esse egoísmo que nos arruína.
Aquele que se destaca como uma cabeça pensante representa um perigo a todos. É assim nas artes, na política e nas empresas. Ou você nunca teve de lidar com alguém que percebeu que você era mais competente e inteligente que ele e teve medo de perder o lugar para você? Pois bem, a insegurança dele não o fará mais inteligente, mas o que importa para ele é continuar auferindo os lucros por aquilo que não é. Vaidade das vaidades! Tudo é vaidade.
Schopenhauer defende o desenvolvimento do pensamento próprio. O homem tem que pensar com sua própria cabeça, formular pensamentos, refletir sobre o que acontece e não recriar o pensamento do outro por meio de palavras próprias que muitas vezes chega a empobrecer um texto original. "Só se sabe aquilo sobre o que se pensou com profundidade".
Ele critica os leitores vorazes, pois defende que ler muitos livros faz com que pensemos com a cabeça dos outros. Mas, não descarta a leitura de bons livros de autores que realmente entendem do assunto e têm algo a dizer, pois para ele só se deve escrever se, de fato, tivermos algo para dizer e esse dizer deve ser simples, conciso, direto, distante de toda prolixidade e de exageros. Se podemos utilizar palavras ao alcance de todos, por que complicar? Os verdadeiros escritores não estão preocupados em demonstrar conhecimentos excepcionais, apenas em deixar claro o que eles têm a expor. É na simplicidade que reside a verdade.
Entretanto, quem desenvolve o pensamento próprio pode encontrar nos livros opiniões de autores que apenas confirmam e fortalecem seu pensamento. Portanto, os livros são de grande valia, mas pensar por si mesmo é simplesmente magnífico. "Porém, mesmo uma grande inteligência não é capaz de pensar por si mesmo a todo momento". Quem nunca leu um livro e concluiu: "penso exatamente assim"?
Quem deseja escrever deve-o fazer de modo simples, claro, conciso, desembaraçoso, pois "quem escreve de maneira displiscente confessa com isso, antes de tudo, que ele mesmo não atribui valor a seus pensamentos".
Schopenhauer dá grande importância e respeito ao tempo do leitor e aconselha-o a largar um livro assim que perceber o quanto ele é ruim ou de difícil entendimento, pois não se tem tempo a perder com aquilo que não nos acrescenta coisa alguma. O escritor deve respeitar o leitor e procurar escrever com elegância e clareza. "Um estilo descuidado, negligente e ruim demonstra um menosprezo pelo leitor".
O escritor que realmente tem algo a dizer procurará expressar suas ideias e pensamentos da forma mais evidente possível, evitando deixar o leitor no escuro.
O filósofo aconselha a leitura dos clássicos e utiliza-se do seguinte pensamento para defender o seu posicionamento: "Leiam com afinco os antigos , os verdadeiros e autênticos antigos: o que os modernos dizem sobre eles não significam muito".
Sou obrigada a concordar com ele e também vos aconselho a dar aos livros clássicos o valor que eles merecem (expliquei o que é um clássico no texto sobre Hamlet). Atualmente, surgem novidades a todo instante. As livrarias estão abarrotadas de livros, mas é necessário que sejamos seletivos ao escolhermos os livros que levaremos para casa. Nem tudo que é novo é bom. E nem tudo que é antigo é ruim. Às vezes, o que precisamos saber já foi escrito há vários séculos por escritores que dedicaram toda sua vida a um determinado estudo ou conhecimento.
Não concordo com aqueles que nos dizem para lermos qualquer coisa que nos aparece. Precisamos ser exigentes e não devemos gastar nosso precioso tempo com quem não tem nada de proveitoso a nos dizer.
"É inacreditável a tolice e a perversidade do público que deixa de ler os espíritos mais nobres e mais raros de cada gênero, de todos os tempos e lugares, para ler as besteiras escritas por cabeças banais que aparecem diariamente, que se espalham a cada ano em grande quantidade, como moscas. E isso apenas porque foram publicados hoje e sua tinta ainda está fresca. Na verdade, esses produtos deveriam ser abandonados e desprezados já no dia de seu nascimento, como serão após poucos anos, e então para sempre, reduzindo-se a um mero assunto para que se ria dos tempos passados e de suas balelas". O que é ruim deve ser criticado e descartado. Pena que hoje não se pode criticar absolutamente nada e isso dificulta aquele que escreve saber que o que escreve é péssimo e deve ser reformulado ou jogado na lata do lixo. A abolição da crítica nos lega a todo instante tudo que não presta e isso é simplesmente danoso.
Então, meus leitores, cuidado com as novidades e as modinhas que aparecem por aí. Sejam cautelosos e respeitem a si mesmos. Não deixem ser enganados por aqueles que só escrevem porque precisam de dinheiro, "de uma vaca que lhes produza leite". Escolham os melhores livros, aqueles que lhes ajudarão a enfrentar essa existência tantas vezes penosa.
A companhia de um livro pode ser a coisa mais prazerosa, mas livros chatos são como pessoas chatas. Livrem-se deles! Ah, e delas também.
"Não há nenhum conforto maior para o espírito do que a leitura dos clássicos antigos: logo que uma pessoa tem em mãos qualquer um deles, mesmo que seja por meia hora, sente-se imediatamente renovado, aliviado, purificado, elevado e fortalecido; é como se tivesse bebido de uma fonte de água fresca em meio aos rochedos".
Também é assim que me sinto sempre que estou na companhia de um bom livro. Os livros me fortalecem e me renovam. Esses são sentimentos que pouquíssimas pessoas me despertam. Digo que os melhores conselhos e ensinamentos foram aqueles que meus amigos livros me passaram. Tenho amor, respeito e gratidão por eles.
"A cultura espiritual elevada nos leva gradativamente a encontrar prazer apenas nos livros, não mais nos homens".
Infelizmente, nosso país não é um país de leitores. Confesso que resolvi criar esse blog para poder falar sobre os livros que leio, porque vejo ao meu redor escassas pessoas que se interessam por esse assunto.
A maioria das pessoas estão interessadas em falar de si mesmas, ainda que suas vidas sejam enfadonhas e desinteressantes. Ou, estão interessadas em falar dos outros, o que é pior ainda. Por isso, quase sempre prefiro me deslocar a lugares recônditos na companhia de um bom livro.
Perguntaram-me se isso não me torna uma pessoa intolerante. Eu repassei a pergunta: "Você me acha intolerante?" Graças a Deus, a pessoa teve grande misericórdia de mim e disse não.
Sou mesmo intolerante? Sinto-me incapaz de responder, pois somos péssimos julgadores de nós mesmos. Na verdade, penso que não tenho externado muito minhas intolerâncias. Engulo-as a seco.
A maioria dos grandes escritores sofreram na miséria e na pobreza e não foram reconhecidos na época em que escreveram suas grandes obras. Geralmente, a fama, a honra e a riqueza são reservados aos indignos.
Na música, isso é uma evidência. Enquanto os bons cantores não conseguem espaço para se apresentarem, os desafinados invadiram todos os palcos e, pior, nossos ouvidos. A TV está entupida de péssimos atores. Os antigos estão sendo mandados embora porque só há espaço para o novo. Não há mais espaço para os antigos. Os atores de quarenta anos ou mais que restaram fazem papel de jovens de 20. Simplesmente, ridículo. O culto à juventude, às modinhas e ao que é novo só nos torna cada vez mais infantis e imbecilizados.
Precisamos retornar às tradições e aos clássicos e a dar valor ao que realmente é capaz de provocar algo de interessante e proveitoso em nós. Devemos recusar tudo aquilo que é de péssimo gosto e que nos empobrece como espíritos que somos. Nosso corpo precisa de uma dieta restrita, com alimentos capazes de nutrir nossas células, assim como nosso espírito necessita se esvaziar de todo excesso para se nutrir do que realmente é capaz de nos transformar no melhor que podemos ser.
Peço desculpas, meus leitores, se apesar do esforço não tornei essa exposição tão clara quanto poderia ser. Prometo que tentarei a cada texto tornar minhas ideias mais simples, evidentes e concisas. Sei que disse coisas duras, mas Schopenhauer não me aliviou e não pude aliviá-los também. A compreensão de vocês é essencial para que eu continue a escrever.
Busquei com esse livro aprender a escrever com respeito a vocês que reservam parte de seus precisos tempos para ler minhas palavras. Meus cumprimentos a todos. Agora, preciso despedir-me para pensar e refletir ainda mais sobre tudo que li.
Depois desse texto... acho que me calarei... mais e mais... a fim de olhar mais para dentro e só me expressar com clareza quando me for possível... às vezes nem pensar com clareza é possível rs... admiração pelo texto e pelas lições. Graditão!
ResponderExcluirFico feliz que tenha gostado. Reflexão é sempre importante e olhar para dentro de nós mesmos é fundamental. Grata pelo tempo dedicado a esse texto. Bjos.
ExcluirMuito bom e prático. Vai me ajudar quando precisar escrever ou falar a respeito de leitura, livros e escritores.
ResponderExcluirSempre que preciso escrever alguma coisa, até anotações de telefone, eu invoco as lições de
Dad Squarisi que diz: escrever é mandar recado. Não é fácil, mas eu tento. E agora, com os ensinamentos de Scopenhauer, vou refletir ainda mais para não entediar os que me leem ou me ouvem.
Maiara, tudo que leio e escrevo, eu busco a simplicidade. Esta talvez seja a razão mais forte por que gosto do estilo da Clarice Lispector, além das idéias, criatividade e facilidade de expressão que ela tem.
A propósito, vou mandar um texto do livro "O Reto e o Oblíquo" de Regina Stella, que acho sensacional e, penso, traduz bem o que expressa SCHOPENHAUER.
Parabéns pela iniciativa.
Obrigado,
Luiz Bezerra
Adorei essa frase Luiz: "escrever é mandar recado". Também me servirá muito. A simplicidade é mesmo fundamental. Agradeço os textos que você me manda e os leio com muita atenção. Obrigada.
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