A mulher de trinta anos, de Honoré de Balzac

Essa história se passa na França do século XIX, no final do reinado de Napoleão Bonaparte.
Julie era uma moça linda e feliz, admirada e amada pelo pai. Orfã de mãe, tinha o pai como única companhia até o momento em que decidiu-se separar dele para seguir o seu próprio destino.
O livro inicia-se com o pai e a filha andando às pressas para assistirem ao desfile de despedida de Napoleão da França. Julie estava entusiasmada e ofegante. Nada podia impedir que ela chegasse ao desfile, mais pela expectativa de ver seu amado Victor, que pela grandeza do evento.
O pai nem imaginava os anseios de amor da filha, revelado apenas pela forma como ela agira quando notou que Victor quase ia sendo derrubado de seu cavalo.
O susto e o desespero de Julie revelaram ao pai seus reais sentimentos pelo cavaleiro militar. Isso entristecera profundamente o pai, que esperava conservá-la ao seu lado, feliz e brilhante.
"Por que eu seria proibida de amar?" - disse ela ao pai.
"Ah, bem, minha criança: ouça. Muitas vezes, as jovens criam imagens nobres, maravilhosas; imaginam figuras totalmente ideais e fabricam ideias quiméricas sobre os homens, sobre os sentimentos e sobre o mundo; depois, inocentemente, elas atribuem, a algum homem, as perfeições que elas mesmas sonharam, confiam nele e amam, no homem escolhido, essa figura imaginária; entretanto, mais tarde, quando já não há mais tempo de se livrar da desgraça, a aparência enganadora, que elas tanto embelezaram, o seu primeiro ídolo, finalmente transforma em um esqueleto terrível. Julie: prefiro vê-la apaixonada por um velho do que por esse coronel. Ah! Se você pudesse viajar no tempo, dez anos adiante deste momento, em seu porvir, você acreditaria em minha vasta experiência. Eu conheço Victor: a sua alegria é uma alegria sem espírito, é uma alegria de quartel; ele não tem talento, mas gasta muito dinheiro. É um daqueles homens criados pelos céus para comer, e digerir, quatro refeições por dia, dormir, amar a primeira que aparecer, e duelar. Ele não compreende a vida. O seu bom coração, pois ele tem um bom coração, talvez o leve a dar todo o seu dinheiro a algum infeliz, a algum camarada; mas ele é despreocupado, mas ele não é dotado dessa delicadeza de coração que nos transforma em escravos da felicidade de uma mulher; mas ele é ignorante, egoísta... Há muitos mas."
Apesar dos esforços do pai em alertar a filha, Julie não voltou atrás em sua decisão de casar com Victor.
Resignado, o pai disse as últimas palavras: "Um dia você vai lamentar a nulidade dele, a sua falta de ordem, o seu egoísmo, a sua indelicadeza, a sua falta de tato no amor e mil desgraças que esse homem vai trazer-lhe."
Tempos depois, casada e tendo que suportar a morte do pai, Julie estava totalmente só e era a mais infeliz das mulheres. Já não tinha o entusiasmo e as alegrias de outrora. A tristeza tomou conta de sua alma e seu corpo tornara-se frágil e debilitado.
Um cavaleiro que andava pela região, encantado por esta mulher, sugeriu ao marido Victor que a deixasse sob seus cuidados médicos para que ele lhe desse novamente a saúde.
Victor consentiu que sua mulher fosse cuidada por Arthur. Afinal, queria a esposa disposta ao seu lado para cumprir com seus deveres de mulher.
"Ah! Os deveres! Sempre os deveres!" - suspirava Julie, inconformada com sua vida e com a sociedade parisiense do século XIX. Apesar da Revolução Francesa de 1789, que representou para a França uma certa liberdade, Julie não tinha dúvidas que essa liberdade não atingira os costumes. Estavam todos presos às mesmas leis e às mesmas hipocrisias. O destino das mulheres parecia ser sempre o mesmo.
As mulheres não podiam satisfazer seus desejos de terminar um casamento, ter um amante. Enquanto os homens, como o próprio Victor, podiam ter as aventuras que quisessem.
Julie sabia dos casos do marido, fingia não sabê-los e assim levava a vida na mais profunda solidão, angústia e arrependimento. "Só eu sou a causa do mal; eu quis casar-me" - ela reconhecia.
Apaixonada por Arthur e ele também por ela, Julie recuperara a saúde, mas por não poder viver esse amor, ainda sofria . Como abandonar o marido e, principalmente, a filha Helène? A desonra seria imensa. Ela jamais seria vista da mesma forma pela sociedade. O marido era bom, apesar de ser modesto e fraco. Talvez essa bondade não fosse o suficiente para fazê-la ficar, mas... e a filha?
"Um marido, nós podemos abandoná-lo, mesmo se ele nos ama. Um homem é um ser forte, tem consolos. Nós podemos desprezar as leis da sociedade. Mas uma criança sem mãe!"
Julie pediu para que Arthur se afastasse dela. Dias depois, recebeu a notícia de que ele havia morrido. "Morreu por mim, por minha honra" - lamentava.
"Julie desprezava a si mesma, amaldiçoava o casamento, queria morrer, e, não fosse um grito da filha, talvez se tivesse atirado da janela à calçada."
Também para Victor, o casamento tinha lá seus dissabores: "Você se casa com uma mulher bonita, ela fica feia; casa-se com uma moça cheia de saúde, ela fica doente; você a imagina apaixonada, ela fica fria, ou melhor, fria na aparência, realmente ela está tão cheia de paixões que ou o mata, ou o desonra. Às vezes, a mais doce das criaturas é amarga, e as amargas nunca se tornam doces; às vezes, a criança que você imaginava ingênua, frágil, desenvolve contra você uma vontade de ferro, um espírito demoníaco. Estou farto do casamento."
Após a morte do pretenso amante, Julie adoecera novamente. Isolou-se no castelo de Saint-Lange, localizado num pequena aldeia em Paris. "Ela exigiu silêncio absoluto no castelo, a filha tinha de ir brincar bem longe dela. Era-lhe tão difícil suportar o menor ruído que qualquer voz humana, mesmo a da filha, desagradava-a muito."
Helène representava para a mãe o fruto de um casamento infeliz; a causa maior porque Julie não abandonara o marido que não amava para viver as imaginárias delícias com o amado Arthur, que por ela morrera. "Um homem amado, jovem e generoso, cujos desejos ela jamais satisfizera, obedecendo às leis da sociedade, havia morrido para salvar o que a sociedade chama de a honra de uma mulher."
Quão doloroso era para ela aceitar o fato de que seu casamento era decepcionante, horrível na realidade, embora conveniente aos olhos de todos os outros. "De que lhe valeram os belos pudores da juventude, os prazeres reprimidos, os sacrifícios feitos à sociedade? Até mesmo a sua beleza lhe era insuportável, era algo inútil."
"Essa mulher, que se recusava a viver, iria experimentar a amargura desses adiamentos no fundo de sua solidão, em uma agonia moral que a morte seria incapaz de exterminar, um terrível aprendizado do egoísmo, que iria deflorar o seu coração e adaptá-lo ao mundo e à sociedade."
Julie parecia transferir para a filha Helène suas dores, impedindo-a de todo o afeto que uma mãe pode oferecer.
Um padre da região teve notícias do isolamento desta mulher e fez-lhe uma visita, na tentativa de salvá-la. Mas, Julie estava decidida a se afundar em suas dores. Disse ao padre: "O casamento, a instituição em que hoje se apoia a sociedade, leva-nos a sentir, sozinhas, todo o seu peso; para o homem, a liberdade; para a mulher, os deveres."
O sacerdote tentou apresentar a ela a face de Deus para que seus sofrimentos fossem amenizados: "Nunca somos frágeis, quando Deus está conosco. Aliás, a senhora não tem afetos a satisfazer na terra, não tem deveres a cumprir aqui?"
Ocorre que Julie estava farta dos deveres. Dos deveres de mulher, de esposa e de mãe.
A maternidade não seria uma motivo para lutar pela vida? "Só sou mãe pela metade, melhor seria não ser mãe de forma alguma" - respondeu com dureza.
Quando uma mulher está afundada em suas dores, cavando sua própria sepultura, a maternidade não é suficiente para sustentá-la. Ser mãe é apenas um lado do todo que é ser mulher. Há sentimentos e desejos que as mulheres querem viver que jamais serão satisfeitos pelo fato de serem mães.
O ego que nos faz humanos ascende em nós o desejo único de ver nossas mais tenras necessidades de afeto serem satisfeitas.
Os filhos não salvam as mães de caírem na tristeza e depressão porque foram rejeitadas por seus maridos.
Os filhos não extinguem de uma mãe a necessidade de amor, de sexo e de se sentirem desejadas por outro homem.
Os filhos não salvam as mães da tristeza de um casamento infeliz.
Os filhos não salvam as mães da angústia, suicídio e de cometerem seus crimes.
Antes de serem mães, são mulheres.
Antes de terem seus filhos, elas já tinham desejos de mulher aflorados em seus corações e em seus sexos.
As alegrias que os filhos dão às mães são alegrias de mãe. Só os homens nos dão as alegrias de sermos mulheres. E são também os homens que dão as mulheres as alegrias de serem mães. Quer as mulheres queiram, quer não.
Julie sabia bem de tudo isso. Fizera tantos sacrifícios pela filha que esses mesmos sacrifícios a afastaram da pobre Helène. Essa mãe imaginava como seria sua vida se Helène não existisse. Admitiu ao padre que a filha não se encontrava em seu coração. "Ela está aqui para evidenciar tudo o que deveria ter sido e não foi. Ela é insuportável! Sorrio a ela, tento dedicar-lhe sentimentos que lhe furto."
A própria mãe tinha consciência do que sua frieza provocava na filha: "Ela me lança olhares acusadores que não suporto!Às vezes, tremo ao encontrar nela um tribunal, onde serei condenada sem ser ouvida."
"Ela é muito linda" - disse o padre sobre Helène.
"Ela é igual ao pai." - respondeu Julie, resolutamente.
Julie desprezava a si própria. Enterrada em suas dores, enterrada num passado que não viveu e que nem mais seria possível viver, pois Arthur morrera, ela persistia em sua tristeza, em suas dores e em sua angústia.
Vendo que nada podia fazer, o sacerdote despediu-se: "A senhora tem razão: seria melhor estar morta...".
A esperança do padre foi perdida quando percebeu que Julie só gostava de conversar com ele para reencontrar as delícias de falar sobre aquele que já não existia mais. O mundo irreal em que ela vivia acabava com todas as expectativas de oferecer-lhe vida nova. Só no passado ela conseguia encontrar um certo consolo. Não podia se doar a nenhuma causa, nem ao marido, nem à filha, nem a ela mesma. Imersa em seu egoísmo, ela só via à frente sua própria dor. "Nem o espírito de família nem o espírito religioso chegam a tocá-la."
Aos trinta anos, Julie criara uma linguagem própria à sua forma de ser. Tinha brilho no olhar, embora vendado por um pensamento constante que demonstrava uma vida febril e de renúncias. "Tudo revelava uma mulher sem interesse algum pela vida, que não conhecera de alguma forma os prazeres do amor."
Nesta idade, ela conheceu Charles de Vandenesse, que se encantara de imediato por ela. "Para um jovem, em uma mulher de trinta anos existem encantos irresistíveis."
"A mulher de trinta anos é cheia de volúpias e remorsos. É experiente e possui mil formas de conservar, ao mesmo tempo, todo o seu poder e a sua dignidade.
A mulher de trinta anos pode vir a ser moça, representar todos os papéis, ser pudica, embelezar-se até mesmo com as próprias desgraças.
A mulher de trinta anos satisfaz a tudo. Ela sabe rir, brincar, enternecer-se, sem se comprometer. Ela possui o tato necessário para tocar todas as cordas sensíveis em um homem, para analisar todos os sons que nele provoca."
Essa mulher de trinta anos, descrita, minuciosamente, em seus sentimentos, por Honoré de Balzac, viria a ser adjetivada, reconhecida e intitulada de balzaquiana. Balzaquiana é, pois, aquela que, após viver três décadas de alegrias, sofrimentos e renúncias, torna-se verdadeiramente mulher, reconhece seu destino, conforma-se a ele e segue adiante.
Foi exatamente aos trinta anos que entendi o significado da frase de Clarice Lispector : "O destino da mulher é ser mulher". E essa frase encerra quaisquer discursos. Eis-me aqui conformada; eis-me balzaqui-Ana.

O senhor Charles declarou seu amor à marquesa Julie, mas para ele era difícil lutar contra um morto, neste caso, Arthur. Um morto já não nos pode mais perturbar, não pode mais cometer erros que o denunciam. Naquele que morreu, só vemos as melhores qualidades.
Julie não sedia aos encantos de Charles, com o desejo de ser fiel àquele que por ela havia morrido. "Ninguém me agrada, ninguém poderia apagar as minhas lembranças."
Passado algum tempo, Julie teve outro filho a quem dera o nome de Charles.
Coincidências ou não, era o mesmo nome de seu amante, a quem cedera um amor até então dedicado a um morto.
Enquanto estava imersa num passeio ao lado de seu amante, totalmente envolvida nas carícias de Vandenesse, Julie se descuidara dos filhos Helène e Charles. A irmã sabia da predileção que a mãe tinha por esse filho: "um segredo do coração, uma predileção tácita que os filhos leem na alma das mães."
Helène percebeu o irmão subindo a colina, lançou-lhe o mais horrível olhar e empurrou-o com um movimento de raiva.
"Talvez Helène tivesse vingado o pai. Sem dúvida, o seu ciúme era a espada de Deus."
Julie perdera o seu filho, assassinado pela irmã, pelo mesmo motivo que Caim matara Abel. Pelo mesmo motivo que faz com que um irmão se volte contra o outro, atacado de ciúme, inveja e fúria. Em toda parte há ódio entre irmãos, às vezes, guardado em segredo, mas evidente pelos olhos. Há competição, que começa quando um percebe que o outro é o preferido dos pais, principalmente das mães.
As mães negam, juram de pé junto que o amor é igual, que não há predileção. Elas não convencem nem aos outros, nem a si mesmas. Suas atitudes revelam tudo. Seus cuidados. Suas atenções, às vezes notável pela diferença de tamanho com que elas repartem o pão.
Essas mães exigem sempre mais do filho predileto como na tentativa de criar um álibi: "não é preferência, é que este filho faz mais por mim que os outros." O amor maior que elas atribuem aos seus filhos preferidos é do tamanho da exigência e da atenção que elas esperam conseguir deles. O amor que conhecemos não é doação; é exigência pura. "O amor em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam."  (Clarice Lispector).

Depois de ter perdido o filho Charles pelas mãos da própria filha, Julie teve outros três, nesta ordem: Abel, Gustave e Moina. Talvez tenha dado ao terceiro filho o nome de Abel para nunca esquecer que este fora o subsequente do filho morto, tal qual a narração bíblica em que Caim mata Abel.

Helène decide ir embora da casa dos pais para acompanhar seu amado, conhecido por todos como um assassino. Ao saber que aquele homem assassinara um velho, Helène quis unir-se a ele, quer pelo amor que nela despertara, quer pela afinidade de seus crimes.
 A mãe não tentou impedi-la, mas o pai quis saber o motivo dela os deixar. Percebendo que a decisão da filha era irreversível, caiu em tristeza e desgosto.

Após esse acontecimento, a família de Julie vê-se arruinada devido à falência de um banqueiro. Victor decide deixar Paris a fim de refazer sua fortuna.
Após seis anos, ao regressar ao seu país, à bordo, Victor vê-se numa emboscada. O navio em que estava é atacado por piratas, que não só roubavam todo o ouro e mercadoria, como matavam os que resistiam aos seus ataques. Antes que qualquer um ferisse Victor, apareceu aquele que outrora levara sua filha Helène. O marido de sua filha era um dos saqueadores. Ao se olharem, reconheceram um ao outro. Victor quis saber logo de sua filha, onde ela estava.
Para o pai, sua filha não podia ser feliz vivendo à bordo e sendo testemunha de roubos e assassinatos do marido. Mas, Helène acalmara o pai: "Ouça, papai, eu tenho como amante, marido, servo e senhor um homem de alma tão vasta quanto este oceano sem limites, tão fértil em carinhos quanto o céu; enfim, um deus! Por sete anos, nunca lhe escapou uma palavra, um sentimento, um gesto, que pudessem desafinar a divida harmonia de suas falas, de suas carícias, de seu amor."
Filha e pai se despediram. Helène continuou seguindo o marido nas suas aventuras em alto mar. Victor retornou ao seio de sua família e, após recuperar sua fortuna, morreu esgotado de fadiga.
Tempos depois, Julie reencontra sua filha Helène no leito de morte. Um naufrágio destrói a família de Helène, restando apenas um de seus filhos. Gemendo de dor e desespero, tanto por ter perdido sua família quanto pela notícia da morte de seu pai, "Helène lançou à mãe um olhar onde se lia reprovação, embora temperada pelo perdão."
As últimas palavras ditas por Helène à mãe foram de acusação: "Tudo isto é obra sua! Se a senhora fosse comigo o que...".
Julie impediu que a filha concluísse suas palavras. Helène morre e Julie explode em lágrimas.
Helène parece ter levado ao túmulo um grande segredo que queria ter revelado à irmã Moina, mas que fora impedida pela mãe.
"A sua irmã, sem dúvida, queria dizer-lhe, Moina, que a felicidade nunca se encontra, para uma filha, em uma vida de romance, fora das ideias ensinadas, e sobretudo, longe de sua mãe."

Aos cinquenta anos, só restara a Julie, de seus cinco filhos, sua filha mais nova, Moina. Todos os outros morreram.
"A marquesa privara-se de tudo pela filha, a quem dera toda a sua fortuna, reservando-se apenas uma pensão vitalícia."
Moina era, desde a infãncia, o objeto de preferência da mãe. Era a filha do coração de Julie.  "Há, entre as mães de famílias, essas simpatias fatais, que parecem inexplicáveis, ou que os observadores sabem explicar muito bem."
Seria Moina fruto do amor proibido entre Julie e Vandenesse?
Há um trecho do livro em que o autor se refere a Helène como única filha de Victor. Sendo assim, Moina não seria filha desse mesmo homem? Ser filha do amante explicaria a preferência da mãe por ela? Creio que é bem plausível essa minha desconfiança. Seria esse o segredo que Helène queria revelar à irmã?
Embora destinando todo o amor à filha que lhe restava, Julie sentia que essa mesma filha a desprezara. Em sua solidão Julie pensava: "é muito estranho estar sozinha depois de ter tido cinco filhos."
Julie errara com os filhos? "Talvez nunca devemos julgar, entre um filho e uma mãe, quem está certo, quem está errado. Entre esses dois corações, só há um juiz possível. Esse juiz é Deus. Deus que, muitas vezes, lança a sua vingança no seio das famílias, servindo-se eternamente dos filhos contra as mães; dos pais contra os filhos; dos povos contra os reis; dos príncipes contra as nações; de todos contra todos."
Talvez Julie pensasse: "e se...". Poderia ter mudado seu destino? Nunca saberemos.
Julie estava velha e só como sempre esteve. Não tinha mais a fisionomia da mulher de trinta anos. Na idade em que se encontrava, "tudo na mulher já falou, as paixões ficaram impressas em sua face; ela foi amante, esposa, mãe, as mais violentas expressões de alegria e de dor acabaram colocando-lhe uma máscara, torturando os seus traços, imprimindo-lhe mil rugas, cada uma delas a falar uma linguagem."
Julie reconhecia que não havia criado a filha com a autoridade de uma mãe. "O seu amor materno tinha chegado a esse ponto: amar a filha, temer a filha, levar uma punhalada e seguir adiante."
Moina a apedrejava, ela desculpava a filha pela vontade de Deus.
Ao perceber que a filha estava apaixonada por Alfred, filha de seu antigo amante Charles Vandenesse, Julie tentou alertar a filha sobre os sofrimentos que a aguardavam. Mas, a filha a tratava com indiferença e frieza.
Alfred seria irmão de Moina ou Julie apenas temia que este homem destruísse sua amada filha?
Julie quis falar algo à filha antes de morrer, mas fora impedida pela chegada da camareira. Também ela levaria seus mais íntimos segredos ao túmulo. Antes de partir, Julie contemplou a filha com um sorriso.
"O coração materno é um abismo, no fundo do qual sempre se encontra o perdão."
Diante da mãe morta, Moina se viu tomada pelo remorso: "Eu perdi a minha mãe!"

FIM.




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