Lições do Papa Francisco
Tudo aquilo que nos conduz a viver uma vida melhor deve ser buscado, estudado e explorado. O que quero dizer com uma vida melhor é uma vida regada de alegria, de serenidade, de amor e de paz.
Não é fácil viver assim, senão não veríamos tanta violência e desconsolo no mundo.
Há aqueles que, diante das mazelas avistadas cotidianamente, chegam a duvidar: "esse mundo parece ter sido criado mais por um Deus mal que bom".
Sim, somos tentados a duvidar o tempo todo como São Tomé duvidou. Afinal, somos humanos e não temos a capacidade e o entendimento suficientes para entender tudo que se passa debaixo do céu.
Há coisas que nunca entenderemos, porque somos seres limitados vivendo sob o infinito e o mistério de Deus. E já digo: nem ousemos descobri-las.
"Há muito mais coisas entre o céu e a terra do que nossa vã filosofia", frase desenvolvida por Shakespeare para indicar que aquilo que não sabemos é maior do que aquilo que sabemos ou achamos que sabemos.
Entretanto, o que não está dentro da capacidade de nosso entendimento não deve ser desprezado ou ignorado, muito menos estigmatizado como inexistente, impossível ou improvável.
Michel de Montaigne, por conhecer nossa inclinação para julgar as coisas apenas pelo alcance de nossa própria visão, escreveu: "(...) mas a razão me ensinou que condenar assim resolutamente uma coisa como falsa e impossível é pretender ter na cabeça as fronteiras e os limites da vontade de Deus e do poder de nossa mãe natureza; e que não há loucura mais notável no mundo do que reduzi-los à medida de nossa capacidade e competência."
Talvez, o não entender diz mais sobre quem somos do que o próprio entendimento. Clarice Lispector não deixou escapar essa reflexão: "Eu sei de muito pouco, disse ela. Mas tenho a meu favor tudo o que não sei e - por ser um campo virgem - está livre de preconceitos. Tudo o que não sei é a minha parte maior e melhor: é minha largueza. É com ela que eu compreenderia tudo.Tudo o que eu não sei é que constitui a minha verdade."
A incompreensão das coisas, inclusive as divinas, persegue os homens há séculos. Para tentar nos fazer entender, Deus habitou entre nós sob a forma humana, por meio de seu filho Jesus. Conquanto, não compreendemos nem o Pai, nem o Filho.
Jesus nos propôs um estilo de vida que amenizasse nossos pecados e, consequentemente, nossos sofrimentos. Caminhar seguindo os passos dele traduz a nossa tentativa de sermos cristãos.
O padre Clóvis Cavalcante Albuquerque Neto, do Instituto Divino Mestre de Brasília, nos ensina: "Ser cristão significa ser outro Cristo". Levei um baita susto quando ouvi essa frase. Como assim? Tenho que perdoar infinitamente? Tenho que cuidar dos leprosos? Tenho que dar atenção aos pobres? Tenho que lutar para deixar de ser mesquinha e egoísta? Orgulhosa? Vaidosa? É isso mesmo? O pároco repetiu: "Assumir-se cristão é assumir o compromisso de imitar a Cristo." Já não restam dúvidas. Ser cristão não é brincadeira e muito menos para os fracos. Digo desde já: "Se não aguenta, não aperte o play".
É bom que saibamos disso com clareza e estejamos conscientes da responsabilidade advinda da assunção desse compromisso de nos autointitularmos cristãos.
É fácil? Obviamente que não. Nossa natureza pecadora é nosso maior obstáculo. Nossa vaidade, nosso orgulho, nossa preguiça, nossos desejos egoístas são verdadeiros entraves para nosso crescimento humano e espiritual.
Eu procuro esse crescimento de várias formas, dentre elas, lendo bons livros como esse intitulado "Lições do Papa Francisco". Em sua apresentação, a organizadora da obra realça: "O papa Francisco sabe do desafio que é levar uma vida cristã nos dias de hoje."
Sim. Hoje pode nos parecer mais difícil levarmos uma vida cristã, mas não deve ter sido muito diferente há dois mil anos. Ou por que Cristo seria crucificado?
O livro compõe-se de lições emanadas do Papa Francisco em pregações e bençãos realizadas desde que assumiu o pontificado. Está dividido em três partes: 1. Vida Cotidiana; 2. Datas festivas; e 3. Ser Cristão.
Quando o adquiri, não era esse o intuito ao entrar na livraria. Entretanto, ao chegar para adquirir outros volumes de Montaigne, avistei-o de imediato pela cor roxa e pelas letras douradas da capa, acrescentado do seguinte enunciado: "Inspirações para uma vida melhor." É tudo que um indivíduo, creio eu, em sã consciência, deseja, viver melhor.
Embora o livro contenha ensinamentos de um Papa, ressalvo que não se trata de um convite à conversão ao catolicismo. Não é a Igreja Católica o objeto principal da obra. Nem é o Papa. O centro do livro é o próprio Jesus. Podemos ser cristãos mesmo não adotando o Catolicismo como religião. Somos cristãos quando imitamos a Cristo, relembro.
Cristo é "aquele que cura, aquele que nos permite viver uma vida bela e fecunda", diz o Papa. "Quem está com Jesus é bem-aventurado. Quem está com Jesus é feliz."
Essa proposta de felicidade em Cristo nos seduz. Ocorre que o mundo também é altamente sedutor. O mundo nos promete riquezas e poder. Jesus nos quer humildes. A humildade de Jesus é provada, dentre outros momentos, pelo seu exemplo de lavar os pés de seus discípulos. "Não devemos nos considerar superiores aos outros".
"Nós, discípulos de Jesus, não devemos buscar títulos de honra, autoridade ou supremacia."
O cristão é aquele que tem esperança na vida presente e na vida eterna. Para o Papa, a esperança é aquela que vai avante e não desilude. O cristão não olha para trás. Ele segue em frente com os olhos no horizonte.
O cristão é aquele que é alegre. "Uma alma alegre é como uma terra boa que faz crescer bem a vida, com bons frutos."
"O Senhor não quer homens e mulheres que caminham atrás Dele com má vontade sem ter no coração o vento da alegria. Jesus quer pessoas que sabem que estar com Ele dá uma felicidade imensa, e que pode ser renovada todos os dias na vida."
O cristão é aquele que perdoa. "O perdão liberta o coração e permite recomeçar: o perdão dá esperança; sem perdão, não se edifica a Igreja".
O cristão semeia esperança. "Sede uma força positiva; sede a locomotiva que faz o comboio avançar para a meta; sede semeadores de esperança, construtores de pontes, obreiros de diálogo e de concórdia."
O cristão não se mete nem espalha fofocas. "A fofoca é uma atitude assassina, porque mata, exclui as pessoas, destrói a reputação delas."
O Papa pede que nos revistamos de ternura, de bondade, de humildade, de mansidão, de magnanimidade, suportando reciprocamente e perdoando uns aos outros, mas, sobretudo, da caridade - um estilo de vida baseado nas indicações de Jesus.
Então, alguém pode se perguntar: Jesus nos quer perfeitos? Ele mesmo disse: "Sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai que está nos céus". Sim, mas embora nos queira perfeitos, sabe de nossas fragilidades.
Também nós precisamos conhecer nossas fraquezas para combatê-las. Precisamos nos reconhecer necessitados para que sejamos curados e consolados. Precisamos nos desfazer do nosso complexo de semideuses e nos prostrarmos diante da grandeza de Deus e de seu filho. "Se você quer entender algo do mistério de Jesus, abaixa-se: faça-se pequeno. Reconheça que você não é nada."
Sabendo de nossa condição vulnerável é que ele nos perdoa. Os pecadores são perdoados. "Jesus oferece às pessoas que erraram a esperança de uma vida nova, uma vida marcada pelo amor." Afinal, queremos amar e ser amados, ainda que nosso orgulho nos conduza a negar essa verdade.
Jesus abomina o pecado, mas ama o pecador. Quando a prostituta foi julgada, ele a perdoou, mas condenou o pecado por ela cometido: "vá e não voltes a pecar". Sua misericórdia é infinita e seu amor por nós é imenso.
"O cristão jamais pode ser pessimista nem se deixar vencer pelo desânimo". Ele deve buscar como exemplo a vida de Jesus, único sem pecado que viveu no meio de nós. "Quanto mais Jesus ocupa o centro de nossa vida, mais nos faz sair de nós mesmos, nos descentra e nos torna mais próximos dos outros."
Ainda que eu admire algumas pessoas, não tenho dúvida de que o único que devo ter como exemplo de vida é Jesus, porque ele foi reto, justo e santo do início ao fim. Ao se ver diante de situações embaraçosas, conflitantes ou difíceis, nós que nos assumimos cristãos, devemos nos perguntar: como Jesus agiria se estivesse em meu lugar?
Essa indagação, provavelmente, nos conduzirá ao acerto, pois "significa deixar Cristo agir em nossas ações, que seus pensamentos sejam nossos pensamentos, que seus sentimentos sejam nossos sentimentos, que suas escolhas sejam também nossas escolhas".
Tornar-se realmente cristão exige uma mudança profunda de nossos pensamentos e de nosso espírito. Quando o espírito é transformado, tudo em nossa volta recebe o reflexo positivo dessa transformação.
Sobre isso, o Papa faz a seguinte reflexão: "A experiência ensina que nenhuma tentativa terrena de mudar as coisas satisfaz plenamente o coração do homem. A mudança do Espírito é diferente: não revoluciona a vida ao nosso redor, mas muda o nosso coração; não nos livra dos problemas de uma hora para outra, mas liberta-nos por dentro para os enfrentar; não nos dá tudo imediatamente, mas faz-nos caminhar confiantes, sem nos deixar jamais cansar da vida."
Invoquem o Espírito Santo de Deus e terão força e energia para conduzirem as suas vidas. Isso é mais real do que vocês possam imaginar. Vocês podem dizer: " Vinde Espírito Santo, mudai-nos por dentro e renovai a face da Terra. Vinde, Espírito Santo, vinde ao meu coração, vinde acompanhar meu dia."
"Vinde curar, vinde libertar."
Portanto, a leitura das lições do Papa Francisco traduz-se numa apresentação da face mais bela de Jesus, de modo a nos aproximarmos dele com fé e alegria. Também, de nos mostrar que vale a pena segui-lo e imitá-lo.
A leitura do Evangelho é de grande importância para quem quer conhecer a vida e as obras de Jesus. Proponho que leiam uma passagem todos os dias. É um contato direto com a história do Senhor. O evangelho nos toca, leva-nos à reflexão e nos faz conhecer a pior e a melhor face de nós mesmos, impulsionando-nos a ser melhores todos os dias.
Cristo é a luz do mundo. Ninguém permanecerá nas trevas se o seguir.
Sigamos a Cristo, convido-os, aproveitando as palavras do Papa: "A presença viva de Cristo, a ser protegida, defendida e dilatada em nós, é lâmpada que ilumina os nossos passos, luz que orienta as nossas escolhas, chama que aquece os corações a ir ao encontro do Senhor, tornando-nos capazes de ajudar quem caminha conosco, até a comunhão inseparável com Ele."
Convido-os também a ler esse livro, tê-lo em sua cabeceira e refletir acerca dos ensinamentos nele contidos, sempre que precisar.
O tempo dedicado ao aprendizado daquilo que pode nos tornar melhores é sempre bem empregado e proveitoso.
Não desista de ser melhor para si mesmo e para os outros. Não abandone a vida cristã. Ressurja em Cristo e permita que Ele conduza a sua vida.
Amém!
Show
ResponderExcluirAmo suas releituras
ResponderExcluirMuito bom!!!!
ResponderExcluirPerfeito...Parabéns!!❤
ResponderExcluirAmei! Obrigada!
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