A liberdade sexual matou o desejo.

Luiz Felipe Pondé, no livro "A filosofia da adúltera", diz que o segredo do mundo se encontra entre as pernas das mulheres. Apesar de essa declaração soar um tanto hiperbólica diante de um cenário de extrema liberdade sexual, creio que em outros tempos os homens se esforçavam muito para revelar esse segredo.

Meu avô presenciou o começo da liberdade da mulher e do sexo e lembro-me de vê-lo assistir a programas de televisão, com mulheres seminuas rebolando diante do zoom das câmeras, e ele bradava em alto tom que não passavam de vagabundas e sem vergonhas.

Acredito que esses adjetivos eram utilizados em sua ignorância não para definir o caráter ou a honra daquelas mulheres, mas como um grito de espanto por estar diante de visões que outrora devem ter lhe custado muito o acesso. Quando rapaz, a única oportunidade que tinha de ver mulheres nuas era quando ficava escondido enquanto elas tomavam banho no rio. Portanto, o contato com a nudez representava uma prévia visualização do céu. As mulheres nuas eram as evas do Paraíso de meu avô.

Entretanto, essa visão era fruto de uma conquista. As mulheres não se lhes apresentavam nuas por vontade consciente e isso fazia com que elas fossem bem mais desejadas do que aquelas que se exibiam em sua frente sem o pudor de serem vistas sob quaisquer ângulos.

Hoje não é preciso ficar escondido atrás de moitas ou portas para ver mulheres sem roupas. Elas se despem por conta própria e a atenção à nudez é a mesma que se dá àquelas carnes dependuradas nos açougues.

Não que eu defenda a ideia de que as mulheres andem de burca. Eu mesma não o faço. A única questão que trago aqui é que a nudez altamente exposta e a facilidade de se ter sexo são fatos que conduzem à mortificação do desejo, pois como dizia meu avô "o que não é visto, é desejado".

A exposição do corpo de forma gratuita e sem reservas é uma das causas de quebra de atrativo entre duas pessoas. Somos movidos por conquistar aquilo que nos parece inalcançável ou difícil e não damos nenhum valor para as coisas que estão ao alcance de nossas mãos.

A emancipação da mulher deu-lhe uma maior liberdade de pensar e agir, conquista de direitos, acessos a postos jamais imaginados, mas também lhe rendeu a perda da feminilidade e da atratividade perante os homens. Cada vez mais eles perdem o interesse sexual pelas mulheres.

O desejo é aumentado quando ronda o fantasma da proibição. Por isso as histórias envolvendo amantes sempre foram mais interessantes que aquelas narrativas cujo enredo permeia o cotidiano tedioso de um casal comum. O encontro entre os amantes é marcado por culpa, ideia de pecado e segredo, todos conhecidos como fortes intensificadores do prazer e aliados da vontade.

A liberdade sexual mata o desejo na medida em a facilidade do sexo, a desnecessidade da conquista e do esforço nos mantém inertes e o sexo só sobrevive no movimento que começa na alma e percorre todo o corpo.

O sexo livre e fácil é um dos assassinos do tesão. Não é à toa que as relações conjugais têm como uma de suas consequências a escassez sexual. O fato de duas pessoas compartilharem o mesmo teto afasta a expectativa do encontro, da surpresa e da novidade. No casamento, um está para o outro de forma previsível e rotineira, evidenciando todas as situações desagradáveis que ao tempo do namoro esforçavam para esconder.

Os homens não mais se interessam pelas mulheres, não as olham e muito menos as querem, pois há coisas mais árduas e que demandam muito mais tempo para eles conquistarem. Hoje, o objeto da caça dos homens está longe de ser uma mulher.

Elas se tornaram desinteressantes para eles e para elas mesmas, pois é a partir da consciência que uma mulher tem de que um homem lhe deseja que ela se sente verdadeiramente uma mulher no sentido primitivo do termo. Sem essa certeza do desejo que provoca no outro, a mulher pode-se dizer assexuada.



















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