Meu olhar sobre Bethânia
Ao som, a voz grave e marcante de Bethânia ressoa belas canções que inebriam e faz o espírito viajar. Antes de dar início a mais um cântico, ela declama um poema de José Régio:
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
Os sentimentos do poeta se confundem com as emoções da intérprete e insinuam que Bethânia só percorre os caminhos que seus próprios pés a levam. Ela é singular e sabedora de si.
Maria Bethânia, nome dado pelo seu irmão Caetano, que a chamou assim por causa de uma música de Nelson Gonçalves.
Maria Bethânia, filha de Dona Canô de quem herdou a alegria e a devoção.
Quando menina gostava de escrever. Odiava as aulas do colégio e desistiu de frequentá-las, com a anuência dos pais. No entanto, nunca parou de aprender. Artista que sempre foi - não iria se acostumar às obrigações de estudante. Artista que é - nasceu para a liberdade. Cantar o que quer, interpretar a verdade que sente, ser tudo que nasceu para ser.
Bethânia sabe de sua força interior e de seu magnetismo. Tem personalidade forte, muito evidente em seu tom de voz e em seus gestos soltos, embora firmes. Seu olhar continua sendo o da menina faceira de Santo Amaro. Seus cabelos brancos e armados confirmam a singularidade e a liberdade de uma mulher que não nasceu para ser ou se comportar como os outros esperam.
Com sua originalidade transbordante, Bethânia parece um pássaro voando no palco, que de vez em quando pousa sossegada e nos inebria com seu canto. Entra com os pés descalços e com o mesmo corpo magro daquela moça de dezessete anos que encantou no Show Opinião. De lá para cá, conseguiu manter a integridade do corpo, da alma e da voz.
De família humilde, o interior da Bahia ainda é a sua principal casa. Alicerçada nos valores repassados por seus pais, Bethânia não se perdeu na fama e continua com a serenidade daqueles que sabem que tanto as críticas como os elogios são perigosos para os que não sabem de si mesmos.
Mas Bethânia sabe. Sabe que nasceu para artista. Sabe o poder que tem dentro de si. Apresenta-se com a postura imponente, autêntica e com a naturalidade de quem não precisa se parecer com ninguém. Ela se basta.
Namoradeira confessa, esbanja a sensualidade que ultrapassa as barreiras do tempo e da idade. Bethânia é a mulher que descobriu ou nasceu sabendo que a sedução é mais um jogo de envolvimento psicológico que físico. Seduz com o olhar, com os movimentos do corpo, com o jogar dos cabelos e com a voz que entra pelo nosso corpo como sangue correndo pelas veias.
Declama os poemas de Fernando Pessoa com uma propriedade que mais parecem ter sido brotados de si própria. Interpreta os textos da Clarice Lispector com a alma de quem os escreveu à própria mão. Em tudo que Bethânia põe sua voz sai como se tivesse sido criado por ela mesma. Ela transforma qualquer coisa de um jeito que caiba exclusivamente dentro de si.
Sua voz quebra todas as redomas e perpassa nossa alma fazendo-nos sonhar com os pés no solo. Bethânia gosta de ficar em casa com seus objetos e lembranças. Sem filhos, dedicou-se à criação de si mesma. Possessiva com tudo e todos, faz análise como todo ser que é por demais grandioso e transborda.
Bethânia me lembra a força de um mar bravio que nos arremete com suas ondas. Sua presença majestosa no palco nos seduz e enlaça.
Deu vontade de ver mais uma vez Bethânia no palco tão livre como uma ave voando no céu. Vontade de escutá-la como uma virgem só para que sua voz fique inesquecível dentre tantas outras vozes.
Vontade de visitar Santo Amaro, que fez brotar essa artista, dirigir-me à Igreja de Nossa Senhora da Purificação, agradecer a dona Canô e rezar aos pés da Cruz pelo talento de Bethânia.
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
Os sentimentos do poeta se confundem com as emoções da intérprete e insinuam que Bethânia só percorre os caminhos que seus próprios pés a levam. Ela é singular e sabedora de si.
Maria Bethânia, nome dado pelo seu irmão Caetano, que a chamou assim por causa de uma música de Nelson Gonçalves.
Maria Bethânia, filha de Dona Canô de quem herdou a alegria e a devoção.
Quando menina gostava de escrever. Odiava as aulas do colégio e desistiu de frequentá-las, com a anuência dos pais. No entanto, nunca parou de aprender. Artista que sempre foi - não iria se acostumar às obrigações de estudante. Artista que é - nasceu para a liberdade. Cantar o que quer, interpretar a verdade que sente, ser tudo que nasceu para ser.
Bethânia sabe de sua força interior e de seu magnetismo. Tem personalidade forte, muito evidente em seu tom de voz e em seus gestos soltos, embora firmes. Seu olhar continua sendo o da menina faceira de Santo Amaro. Seus cabelos brancos e armados confirmam a singularidade e a liberdade de uma mulher que não nasceu para ser ou se comportar como os outros esperam.
Com sua originalidade transbordante, Bethânia parece um pássaro voando no palco, que de vez em quando pousa sossegada e nos inebria com seu canto. Entra com os pés descalços e com o mesmo corpo magro daquela moça de dezessete anos que encantou no Show Opinião. De lá para cá, conseguiu manter a integridade do corpo, da alma e da voz.
De família humilde, o interior da Bahia ainda é a sua principal casa. Alicerçada nos valores repassados por seus pais, Bethânia não se perdeu na fama e continua com a serenidade daqueles que sabem que tanto as críticas como os elogios são perigosos para os que não sabem de si mesmos.
Mas Bethânia sabe. Sabe que nasceu para artista. Sabe o poder que tem dentro de si. Apresenta-se com a postura imponente, autêntica e com a naturalidade de quem não precisa se parecer com ninguém. Ela se basta.
Namoradeira confessa, esbanja a sensualidade que ultrapassa as barreiras do tempo e da idade. Bethânia é a mulher que descobriu ou nasceu sabendo que a sedução é mais um jogo de envolvimento psicológico que físico. Seduz com o olhar, com os movimentos do corpo, com o jogar dos cabelos e com a voz que entra pelo nosso corpo como sangue correndo pelas veias.
Declama os poemas de Fernando Pessoa com uma propriedade que mais parecem ter sido brotados de si própria. Interpreta os textos da Clarice Lispector com a alma de quem os escreveu à própria mão. Em tudo que Bethânia põe sua voz sai como se tivesse sido criado por ela mesma. Ela transforma qualquer coisa de um jeito que caiba exclusivamente dentro de si.
Sua voz quebra todas as redomas e perpassa nossa alma fazendo-nos sonhar com os pés no solo. Bethânia gosta de ficar em casa com seus objetos e lembranças. Sem filhos, dedicou-se à criação de si mesma. Possessiva com tudo e todos, faz análise como todo ser que é por demais grandioso e transborda.
Bethânia me lembra a força de um mar bravio que nos arremete com suas ondas. Sua presença majestosa no palco nos seduz e enlaça.
Deu vontade de ver mais uma vez Bethânia no palco tão livre como uma ave voando no céu. Vontade de escutá-la como uma virgem só para que sua voz fique inesquecível dentre tantas outras vozes.
Vontade de visitar Santo Amaro, que fez brotar essa artista, dirigir-me à Igreja de Nossa Senhora da Purificação, agradecer a dona Canô e rezar aos pés da Cruz pelo talento de Bethânia.
Texto lindo ❤️. Muito bonito mesmo. Te felicito lor tanta sensibilidade e bom gosto.
ResponderExcluirMuito obrigada! Agradeço pela leitura. Beijos!
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