Homem ideal
Encontrávamo-nos nos corredores e dizíamos uma a outra: "Precisamos marcar nosso café". Até que um dia saímos para almoçar e, após, bater um papo sobre Literatura e coisas da vida e de nossas vidas.
De repente falávamos sobre filhos, ela que não os teve sob o argumento de que nunca houvera se relacionado com um homem que quisesse pai de um filho seu.
Naquele instante, algo em sua fala me chocou. Como assim? Supunha-se melhor que os outros? Achava-se acima dos mortais? Por que o que ela disse me atingiu tanto? O que de mim existia no conteúdo daquelas palavras ou no sentido de sua frase e do seu modo de pensar e sentir?
Passados tantos anos após nosso encontro, não consigo esquecer aquela voz a dizer: "Não tive filhos, porque não considerei que algum dos homens com os quais me relacionei pudesse ser pai de um filho meu."
Há tempos me prometo escrever sobre o que ouvi (e que me habita) e só escrevo agora pelo gatilho que me despertou a frase de uma escritora que tanto pensa e sente como eu: "Preciso do meu igual". Talvez seja isso.
Essa história de que os opostos se atraem não é tão atraente assim. "Preciso do meu igual", de alguém que, minimamente, não destoe tanto do que sou, procuro, penso, sinto, vejo e ajo. Do que busco.
Ou até mais, talvez, como Simone de Beauvoir, preciso de um homem que me ultrapasse, que seja maior que eu em tudo. Só assim, quem sabe, a vontade genuína de lhe dar meu corpo, minha alma, meu desejo, um filho.
A este homem, adoraria como a um deus, por admiração e respeito.
Diz Simone: "Não atribuía a meu futuro marido nenhum traço definido. Em compensação, imaginava nossas relações de maneira precisa: sentiria por ele uma admiração apaixonada. Seria necessário que o eleito se impusesse a mim por uma espécie de evidência. Senão, eu indagaria: por que ele e não outro? Eu amaria no dia que um homem me subjugasse por sua inteligência, sua cultura, sua autoridade."
Acrescento: também por seu tamanho, austeridade e beleza.
Ando mais exigente do que nunca. E se não há quem corresponda ao meu ideal, paciência! O outro, quase sempre, não é bem como a gente quer. E quer saber?
Que assim seja!
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