A sutil arte de ligar o foda-se, de Mark Manson
Numa das livrarias que costumo frequentar há um espaço destinado às obras mais vendidas e eu sempre via o livro A sutil arte de ligar o foda-se figurando nessa categoria.
O livro me chamava atenção pela capa, pelo título, mas relutava muito em comprá-lo. Acho que mais em decorrência do nome "foda-se". Uma espécie de preconceito. Pensava comigo: "não havia palavra mais sutil que pudesse substituí-la?"
Até que um dia, nessa mesma livraria, fiquei atenta a um papo entre uma vendedora e uma cliente. Era a mais convincente propaganda sobre a obra. Não resisti ao ouvir a conversa alheia e me rendi, venci o preconceito e fui para casa carregando o livro.
Ao chegar a casa comecei a lê-lo de imediato e, uma surpresa - o livro realmente era muito bom. Li em dois dias. Devorei-o com muita ânsia.
O autor nos convida a ver "a vida como ela é", como dizia Nelson Rodrigues. É um chamado ao encontro de nossas limitações, das coisas que fogem ao nosso controle, mas também daquelas que estão diante de nossas nossas mãos.
Às vezes está tudo ruim mesmo, às vezes nos sentimos impotentes (e somos), outras não podemos modificar os acontecimentos. Tudo isso é possível de acontecer sem que precisemos nos sabotar diante dessa realidade.
"Sabemos que somos cheios de falhas e limitações, mas não adianta fingir não vê-las - o melhor é reconhecê-las e aprender a aceitá-las. Uma vez que abraçamos nossos medos, defeitos e incertezas, uma vez que paramos de fugir e começamos a confrontar as verdades mais dolorosas, nos abrimos para encontrar a coragem, perseverança e entusiasmo."
Na verdade, é um livro realista e que nos chama a não mascarar os fatos, mas a enfrentá-los.
Dentre os vários pontos que me chamaram a atenção destaco a abordagem inicial a respeito do consumismo: estamos o tempo todo sendo atraídos para consumir. E logo que adquirimos algo, aparece outra coisa e depois outra ilimitadamente. Será mesmo que precisamos sempre de mais?
"O segredo para uma vida melhor não é precisar de mais coisas; é se importar com menos, e apenas com o que é verdadeiro, imediato e importante". Por que apesar de podermos comprar mais estamos mais depressivos e ansiosos?"
"Problemas de saúde decorrentes de estresse, transtornos de ansiedade e casos de depressão dispararam nos últimos trinta anos, apesar de todo mundo ter uma TV de tela plana e pedir comida em casa".
Também, há a abordagem do tão falado sucesso. Todos querem o sucesso. Sempre ele. Nunca a importância do fracasso é matéria de divulgação, embora este detenha um poder maior de nos humanizar.
A felicidade exige esforço de nossa parte. Um bom emprego, um bom casamento, um corpo bonito e saúde exigem dedicação. Nada é fácil e é preciso encarar essa verdade. Muito querer, muito falar e pouca ação não nos levarão a lugar algum.
Outra coisa, a culpa dos nossos fracassos não pode sempre ser do outro. Negação e vitimização podem provocar um alívio imediato, mas não resolvem os nossos problemas.
Não dá para esgotar esse livro tão rico em um texto curto. Então, peço que leiam. O livro é composto de 9 capítulos:
1) Nem tente;
2) A felicidade é um problema;
3) Você não é especial;
4) O valor do sofrimento;
5) Você está sempre fazendo escolhas;
6) Você está errado em tudo (eu também);
7) Fracassar é seguir em frente;
8) A importância de dizer não;
E o capítulo 9 é "....e aí você morre! É apenas para nos lembrar que somos mortais. E isso também é inevitável. Bukowski diz: "Todos vamos morrer, todos nós. Que circo! Só isso deveria nos fazer amar uns aos outros, mas não. Ficamos apavorados e somos esmagados pelas trivialidades da vida; somos consumidos pelo nada."
Diante da riqueza deste livro e de tudo que aprendi com ele envergonho-me da minha pequenez em tê-lo julgado pelo título, assim como tantas vezes devo ter julgado as pessoas pela aparência.
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