Atualidade do Ovo e da Galinha (ou A mulher como instrumento para a continuação da humanidade)
O conto "Atualidade do ovo e da galinha" foi escrito por Clarice Lispector e continua sendo um de seus textos mais enigmáticos, quiçá o mais.
Sobre ele me debrucei por alguns dias. Eu o li, reli, interpretei, reinterpretei. Dormi e acordei com ele. Sonhei. Dele mastiguei, comi e engasguei. Hoje o vomito sob a forma de uma resenha.
O enigma do texto talvez seja característico do próprio assunto por ele abordado, o mais enigmático dos temas que continua sendo o mistério da criação. É sobre isso que versa "Atualidade do ovo e da galinha". A meu ver, é claro!
Clarice começa assim: "De manhã na cozinha sobre a mesa está o ovo".
Na primeira oração, identificamos os elementos de uma narrativa: de manhã (tempo); na cozinha sobre a mesa (espaço); está o ovo (personagem).
O personagem principal do conto é, portanto, o ovo. Daí, tem-se que a galinha é apenas coadjuvante. Só para confirmar essa tese, observamos que, no título, a galinha vem depois.
Ovo e galinha são usados como metáfora para representar a criação da humanidade e a mulher, respectivamente.
A criação da humanidade é exteriorizada pela existência das criaturas humanas. Assim, acrescenta-se que o ovo tanto pode estar relacionado à criação quanto à criatura, pois uma está para a outra.
Para que a criatura exista, alguém tem que abrigá-la. É nesse sentido a frase: "O ovo não tem um si-mesmo. Individualmente ele não existe."
Assim como a galinha abriga o ovo, é necessário também que a criatura humana seja abrigada por alguém, neste caso, pela mulher.
Logo, a mulher é a grande responsável por abrigar, proteger e perpetuar a criação. Tudo se desenvolve dentro dela. Ela é um instrumento. Falarei sobre a Virgem Maria...
O ovo habita o interior da galinha, assim como o ovo ou zigoto habita o interior da mulher, ainda que ninguém o veja, ele está lá. "Só as máquinas veem o ovo", ou seja, somente por meio do microscópio.
A Lua é habitada por ovos..." Outra metáfora de que Clarice se utiliza para dizer que a mulher, esse ser de fases, tal qual a lua, é habitada por ovos.
A mulher nasce com uma quantidade determinada de óvulos que são formados num período da gestação enquanto se é apenas um feto. "Quando eu era antiga um ovo pousou no meu ombro". Penso que quando a autora fala "quando eu era antiga" refere-se a "quando eu era um feto" e "um ovo pousou no meu ombro", lembra as trompas de falópio que sustentam os ovários, onde pousam os óvulos. Essa interpretação é a mesma que dou para: "Quando eu era antiga fui depositária do ovo..."
Para demonstrar que, no processo de criação, a mulher só é necessária até certo ponto, Clarice diz: "Quando morri, tiraram de mim o ovo com cuidado: ainda estava vivo", numa clara alusão de que mesmo morta, mas estando o ovo vivo, sua função e missão de abrigar o ovo fora atingida.
A formação de um ser tem início quando o óvulo é fecundado por um esperma, constituindo o ovo ou zigoto. "A você dedico o começo." "Ao ovo dedico a nação chinesa." O ovo é o início da vida. De ovo em ovo, a China foi superpovoada.
"De ovo a ovo chega-se a Deus, que é invisível a olho nu", ou seja, de criatura em criatura chega-se ao Criador.
"Ovo é coisa que precisa tomar cuidado. Por isso, a galinha é o disfarce do ovo. Para que o ovo atravesse os tempos a galinha existe. Mãe é para isso."
Havia de se ter alguém para cuidar do ovo e esse alguém é a mãe. Para dar continuidade à humanidade é que a mulher existe. Essa é a função maior da mulher, segundo Clarice. Convenhamos que isso não a inferioriza. Pelo contrário, isso a enobrece a tal ponto que eu como mulher fiquei encabulada diante da lucidez desse entendimento.
Leitores, quero fazer um adendo para lhes dizer que eu tive de estudar o sistema reprodutor feminino, bem como o processo de fecundação com a finalidade de desenvolver esse texto.
O corpo da mulher veio totalmente configurado e equipado para abrigar o ovo. É uma perfeição que intriga. Essa verdade não quer significar uma obrigação de a mulher ter filhos. Pelo amor de Deus. Acredito que já superamos essa questão. O que se está afirmando e eu não preciso provar, porque é óbvio, é que a continuação da espécie se dá por um processo que ocorre dentro da mulher. A participação do homem é ínfima e às vezes nem é necessário que ele participe diretamente. A inseminação está aí para nos mostrar isso.
Eu quero dizer com isso que a mulher é superior ao homem? Nunquinha da Silva. Deus me livre que eu não passo horas do meu tempo lendo e estudando para dizer uma asneira dessa. Nem a mulher, nem o homem é superior em relação ao outro. Eles são apenas o homem e a mulher. Somente. As adjetivações mal utilizadas só servem para confundir e alienar. Estou é fora disso.
Precisamos parar com essa coisa de adjetivar aos quatro cantos. Sou capaz de fazer um tratado contra as adjetivações. Veja bem: leio livros e faço resenhas. Em nenhuma delas vocês me verão emitindo juízo de valor sobre um livro. Até por uma questão de limitar minha presunção. Não pretendo desmerecer um trabalho de alguém que passou horas do seu tempo se dedicando à construção dele. Leio o livro, considero tudo o que é dito e transfiro pelas resenhas aquilo que acredito ser capaz de provocar uma reflexão no leitor. Daí a dizer leia o livro ou não leia o livro porque ele é bom ou ruim, não mesmo. Sei muito bem que algo pode não agradar gregos, mas agradar troianos. Deixo que os leitores leiam os livros e tirem suas próprias conclusões. É também uma forma de respeito com quem escreveu e com quem pretende ler.
Voltemos ao ovo. Para que ele exista como início da vida, há que se ter aquela partezinha que vem do homem e que nós adultos esclarecidos não negamos.
É uma partezinha ínfima, eu sei. Mas, sem ela, nada feito. É como tudo que existe ao nosso redor. O prédio que você mora, por exemplo, precisou ser desenhado por um arquiteto, projetado por um engenheiro e edificado por vários homens que foram colocando tijolo por tijolo e acabamento e pintura, enfim. Houve quem transportasse os materiais, quem os descarregasse, quem preparasse as massas com cimento e tudo o mais que eu não sou obrigada a entender de construção. Com essa junção de tudo o que é necessário para se ter um prédio em condições de morar é que você mora num prédio.
Isso serve para tudo. Nunca se esqueça desse processo longo de construção das coisas e da vida como forma de dar importância igual a todos que participam do processo.
Quem é mais importante? O engenheiro ou o operário? Nenhum. Os dois são igualmente importantes em suas funções. Assim o é com o homem e a mulher. Desculpem, mas eu tenho que falar a verdade ainda que a humanidade não aguente.
Mas, é a mulher que abriga o ovo. Nela se desenvolve todo o mistério da criação. O mistério que se passa dentro da mulher e que não parece ser desenvolvido por ela mesma. É tão perfeito que transcende a imperfeição humana.
"O ovo é o sacrifício da galinha", ou seja, o filho é o sacrifício da mãe. Antes (menstruação), durante (gestação/parto) e depois (educação, proteção, amor)... "O ovo é a cruz que a galinha carrega na vida". O filho é a cruz que a mãe carrega. A mesma cruz que obrigou Maria a estar nos pés de Jesus quando crucificado e morto. As mães carregam as cruzes de seus filhos. Por isso que "a galinha tem um ar constrangido". Aliás, a mãe tem um ar constrangido. Elas são obrigadas a carregar sua própria cruz e a dos filhos.
O semblante de uma mulher que se torna mãe sempre me chamou muito a atenção. Alguma coisa de diferente eu consigo perceber e não sabia bem o que era. Uma mudança visível da condição de não-mãe para mãe. Não uma mudança para a alegria, mas para a preocupação, mista com um pouco de tristeza. Aquele olhar próximo ao das imagens da Virgem Maria. Descubro que é porque a mãe é constrangida e até seu corpo despenca um pouquinho por conta do peso maior de uma outra cruz. Seu olhar é de quem se sacrifica.
Só que a mulher ama esse sacrifício. A mãe ama o filho. Elas se alegram com eles."Para que o ovo use a galinha é que a galinha existe. Ela era só para cumprir a missão, mas gostou."
As mulheres gostam de ser mães. (Há exceções... Falaremos delas mais tarde). Elas não só gostam, mas sofrem quando não podem abrigar um ovo. Não poder abrigar um ovo também é um sacrifício.
"Gostar não faz parte de nascer. Gostar de estar vivo dói." A mãe é toda doída porque gosta dos filhos e os querem vivos.
"O ovo que achou a galinha." O ovo antecede... "A galinha é diretamente uma escolhida". Deus escolheu Maria quando Jesus já é. Ele já existia como verbo, como um anúncio na boca de profetas. Habitou no ventre da virgem e se fez carne. Essa era a missão de Maria. Abrigar o ovo. Essa é a missão precípua da mulher como parte de um projeto de continuação da humanidade.
"A galinha vive como em sonho. Não tem senso de realidade. Todo o susto da galinha é porque estão sempre interrompendo seu devaneio. A galinha é um grande sono. A galinha sofre de um mal desconhecido. O mal desconhecido da galinha é o ovo. Ela não sabe explicar."
Maria vivia seu sonho simples e humilde de se casar com José. Até que foi interrompida do seu devaneio e teve um susto com a anunciação do anjo, pois era chegada a hora de abrigar o Ovo. Não tinha explicação. Esse foi o seu destino.
"A galinha tem muita vida interior. Para falar a verdade só tem mesmo é vida interior. A nossa visão de sua vida interior é o que chamamos de galinha. A vida interior da galinha consiste em agir como se entendesse. Qualquer ameaça e ela grita em escândalo feito uma doida. Tudo isso no fundo para que o ovo não se quebre dentro dela. Ovo que se quebra dentro da galinha é como sangue."
A mãe faz de tudo para não perder um filho. Ela se volta toda para o ovo durante a gestação. Não entende nada do que se passa em seu ventre, ainda assim está toda voltada para dentro e atenta. Uma ameaça ao ovo e ela se desespera. Ovo quebrado dentro ou fora da mãe é como sangue que não se estanca durante toda sua vida.
"A galinha olha o horizonte..."
E enquanto a mãe olha o horizonte, queridos leitores, aguardemos a segunda parte desse texto...
Sobre ele me debrucei por alguns dias. Eu o li, reli, interpretei, reinterpretei. Dormi e acordei com ele. Sonhei. Dele mastiguei, comi e engasguei. Hoje o vomito sob a forma de uma resenha.
O enigma do texto talvez seja característico do próprio assunto por ele abordado, o mais enigmático dos temas que continua sendo o mistério da criação. É sobre isso que versa "Atualidade do ovo e da galinha". A meu ver, é claro!
Clarice começa assim: "De manhã na cozinha sobre a mesa está o ovo".
Na primeira oração, identificamos os elementos de uma narrativa: de manhã (tempo); na cozinha sobre a mesa (espaço); está o ovo (personagem).
O personagem principal do conto é, portanto, o ovo. Daí, tem-se que a galinha é apenas coadjuvante. Só para confirmar essa tese, observamos que, no título, a galinha vem depois.
Ovo e galinha são usados como metáfora para representar a criação da humanidade e a mulher, respectivamente.
A criação da humanidade é exteriorizada pela existência das criaturas humanas. Assim, acrescenta-se que o ovo tanto pode estar relacionado à criação quanto à criatura, pois uma está para a outra.
Para que a criatura exista, alguém tem que abrigá-la. É nesse sentido a frase: "O ovo não tem um si-mesmo. Individualmente ele não existe."
Assim como a galinha abriga o ovo, é necessário também que a criatura humana seja abrigada por alguém, neste caso, pela mulher.
Logo, a mulher é a grande responsável por abrigar, proteger e perpetuar a criação. Tudo se desenvolve dentro dela. Ela é um instrumento. Falarei sobre a Virgem Maria...
O ovo habita o interior da galinha, assim como o ovo ou zigoto habita o interior da mulher, ainda que ninguém o veja, ele está lá. "Só as máquinas veem o ovo", ou seja, somente por meio do microscópio.
A Lua é habitada por ovos..." Outra metáfora de que Clarice se utiliza para dizer que a mulher, esse ser de fases, tal qual a lua, é habitada por ovos.
A mulher nasce com uma quantidade determinada de óvulos que são formados num período da gestação enquanto se é apenas um feto. "Quando eu era antiga um ovo pousou no meu ombro". Penso que quando a autora fala "quando eu era antiga" refere-se a "quando eu era um feto" e "um ovo pousou no meu ombro", lembra as trompas de falópio que sustentam os ovários, onde pousam os óvulos. Essa interpretação é a mesma que dou para: "Quando eu era antiga fui depositária do ovo..."
Para demonstrar que, no processo de criação, a mulher só é necessária até certo ponto, Clarice diz: "Quando morri, tiraram de mim o ovo com cuidado: ainda estava vivo", numa clara alusão de que mesmo morta, mas estando o ovo vivo, sua função e missão de abrigar o ovo fora atingida.
A formação de um ser tem início quando o óvulo é fecundado por um esperma, constituindo o ovo ou zigoto. "A você dedico o começo." "Ao ovo dedico a nação chinesa." O ovo é o início da vida. De ovo em ovo, a China foi superpovoada.
"De ovo a ovo chega-se a Deus, que é invisível a olho nu", ou seja, de criatura em criatura chega-se ao Criador.
"Ovo é coisa que precisa tomar cuidado. Por isso, a galinha é o disfarce do ovo. Para que o ovo atravesse os tempos a galinha existe. Mãe é para isso."
Havia de se ter alguém para cuidar do ovo e esse alguém é a mãe. Para dar continuidade à humanidade é que a mulher existe. Essa é a função maior da mulher, segundo Clarice. Convenhamos que isso não a inferioriza. Pelo contrário, isso a enobrece a tal ponto que eu como mulher fiquei encabulada diante da lucidez desse entendimento.
Leitores, quero fazer um adendo para lhes dizer que eu tive de estudar o sistema reprodutor feminino, bem como o processo de fecundação com a finalidade de desenvolver esse texto.
O corpo da mulher veio totalmente configurado e equipado para abrigar o ovo. É uma perfeição que intriga. Essa verdade não quer significar uma obrigação de a mulher ter filhos. Pelo amor de Deus. Acredito que já superamos essa questão. O que se está afirmando e eu não preciso provar, porque é óbvio, é que a continuação da espécie se dá por um processo que ocorre dentro da mulher. A participação do homem é ínfima e às vezes nem é necessário que ele participe diretamente. A inseminação está aí para nos mostrar isso.
Eu quero dizer com isso que a mulher é superior ao homem? Nunquinha da Silva. Deus me livre que eu não passo horas do meu tempo lendo e estudando para dizer uma asneira dessa. Nem a mulher, nem o homem é superior em relação ao outro. Eles são apenas o homem e a mulher. Somente. As adjetivações mal utilizadas só servem para confundir e alienar. Estou é fora disso.
Precisamos parar com essa coisa de adjetivar aos quatro cantos. Sou capaz de fazer um tratado contra as adjetivações. Veja bem: leio livros e faço resenhas. Em nenhuma delas vocês me verão emitindo juízo de valor sobre um livro. Até por uma questão de limitar minha presunção. Não pretendo desmerecer um trabalho de alguém que passou horas do seu tempo se dedicando à construção dele. Leio o livro, considero tudo o que é dito e transfiro pelas resenhas aquilo que acredito ser capaz de provocar uma reflexão no leitor. Daí a dizer leia o livro ou não leia o livro porque ele é bom ou ruim, não mesmo. Sei muito bem que algo pode não agradar gregos, mas agradar troianos. Deixo que os leitores leiam os livros e tirem suas próprias conclusões. É também uma forma de respeito com quem escreveu e com quem pretende ler.
Voltemos ao ovo. Para que ele exista como início da vida, há que se ter aquela partezinha que vem do homem e que nós adultos esclarecidos não negamos.
É uma partezinha ínfima, eu sei. Mas, sem ela, nada feito. É como tudo que existe ao nosso redor. O prédio que você mora, por exemplo, precisou ser desenhado por um arquiteto, projetado por um engenheiro e edificado por vários homens que foram colocando tijolo por tijolo e acabamento e pintura, enfim. Houve quem transportasse os materiais, quem os descarregasse, quem preparasse as massas com cimento e tudo o mais que eu não sou obrigada a entender de construção. Com essa junção de tudo o que é necessário para se ter um prédio em condições de morar é que você mora num prédio.
Isso serve para tudo. Nunca se esqueça desse processo longo de construção das coisas e da vida como forma de dar importância igual a todos que participam do processo.
Quem é mais importante? O engenheiro ou o operário? Nenhum. Os dois são igualmente importantes em suas funções. Assim o é com o homem e a mulher. Desculpem, mas eu tenho que falar a verdade ainda que a humanidade não aguente.
Mas, é a mulher que abriga o ovo. Nela se desenvolve todo o mistério da criação. O mistério que se passa dentro da mulher e que não parece ser desenvolvido por ela mesma. É tão perfeito que transcende a imperfeição humana.
"O ovo é o sacrifício da galinha", ou seja, o filho é o sacrifício da mãe. Antes (menstruação), durante (gestação/parto) e depois (educação, proteção, amor)... "O ovo é a cruz que a galinha carrega na vida". O filho é a cruz que a mãe carrega. A mesma cruz que obrigou Maria a estar nos pés de Jesus quando crucificado e morto. As mães carregam as cruzes de seus filhos. Por isso que "a galinha tem um ar constrangido". Aliás, a mãe tem um ar constrangido. Elas são obrigadas a carregar sua própria cruz e a dos filhos.
O semblante de uma mulher que se torna mãe sempre me chamou muito a atenção. Alguma coisa de diferente eu consigo perceber e não sabia bem o que era. Uma mudança visível da condição de não-mãe para mãe. Não uma mudança para a alegria, mas para a preocupação, mista com um pouco de tristeza. Aquele olhar próximo ao das imagens da Virgem Maria. Descubro que é porque a mãe é constrangida e até seu corpo despenca um pouquinho por conta do peso maior de uma outra cruz. Seu olhar é de quem se sacrifica.
Só que a mulher ama esse sacrifício. A mãe ama o filho. Elas se alegram com eles."Para que o ovo use a galinha é que a galinha existe. Ela era só para cumprir a missão, mas gostou."
As mulheres gostam de ser mães. (Há exceções... Falaremos delas mais tarde). Elas não só gostam, mas sofrem quando não podem abrigar um ovo. Não poder abrigar um ovo também é um sacrifício.
"Gostar não faz parte de nascer. Gostar de estar vivo dói." A mãe é toda doída porque gosta dos filhos e os querem vivos.
"O ovo que achou a galinha." O ovo antecede... "A galinha é diretamente uma escolhida". Deus escolheu Maria quando Jesus já é. Ele já existia como verbo, como um anúncio na boca de profetas. Habitou no ventre da virgem e se fez carne. Essa era a missão de Maria. Abrigar o ovo. Essa é a missão precípua da mulher como parte de um projeto de continuação da humanidade.
"A galinha vive como em sonho. Não tem senso de realidade. Todo o susto da galinha é porque estão sempre interrompendo seu devaneio. A galinha é um grande sono. A galinha sofre de um mal desconhecido. O mal desconhecido da galinha é o ovo. Ela não sabe explicar."
Maria vivia seu sonho simples e humilde de se casar com José. Até que foi interrompida do seu devaneio e teve um susto com a anunciação do anjo, pois era chegada a hora de abrigar o Ovo. Não tinha explicação. Esse foi o seu destino.
"A galinha tem muita vida interior. Para falar a verdade só tem mesmo é vida interior. A nossa visão de sua vida interior é o que chamamos de galinha. A vida interior da galinha consiste em agir como se entendesse. Qualquer ameaça e ela grita em escândalo feito uma doida. Tudo isso no fundo para que o ovo não se quebre dentro dela. Ovo que se quebra dentro da galinha é como sangue."
A mãe faz de tudo para não perder um filho. Ela se volta toda para o ovo durante a gestação. Não entende nada do que se passa em seu ventre, ainda assim está toda voltada para dentro e atenta. Uma ameaça ao ovo e ela se desespera. Ovo quebrado dentro ou fora da mãe é como sangue que não se estanca durante toda sua vida.
"A galinha olha o horizonte..."
E enquanto a mãe olha o horizonte, queridos leitores, aguardemos a segunda parte desse texto...
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