Amor e Ódio

Aconteceu-me de lhe dizer: Não preciso de você. Como a personagem de Clarice Lispector que, ao ser rejeitada, ao desejar que o amado lhe amasse e tendo por resposta o silêncio, proferiu: "Eu te odeio." Ódio como retorno do amor negado. 

Ódio que também é amor.

Acontece que eu preciso dele, sim. Acontece que sinto falta dele, sim. Acontece que minhas palavras foram apenas reação às dele.

Ia dizer umas coisas. A ele, não pude. A partir do "não preciso de você" todas as vias de acesso me foram negadas, como para mostrar-me: já que não precisa...

Em resposta às suas palavras que me afetaram, deveria ter escrito: Preciso de você. O que corresponderia com os meus sentimentos e, talvez, com os dele. 

Mas precisar é a demonstração de necessidade e a confissão de falta que nem sempre quero admitir. 

Se digo "preciso de você" é como se estivesse confessando "estou em suas mãos". Porque amar é estar nas mãos de alguém. Amar é encarar o abismo de o outro simplesmente querer ir e não se voltar nunca mais.

Tentei me redimir. Em vão. Palavras proferidas ferem. Atentei contra a humanidade de um homem. Feri.

"Quem com ferro fere com ferro será ferido". 

O silêncio dele é de ferro.


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