Só pro meu prazer

Existem pessoas que vivem à cata dos prazeres e, eu, sou a principal delas. 

Se consultarmos um dicionário, teremos que prazer é a sensação ou emoção agradável, ligada à satisfação de uma vontade, do exercício harmonioso das necessidades vitais; alegria, júbilo, contentamento.

Na Grécia Antiga, o Hedonismo representava a doutrina filosófica e moral que defendia que a busca pelo prazer é o objetivo último da vida humana. Hedonê significa "prazer" ou "vontade, que, para os hedonistas, constitui meio de alcançar a felicidade.

Quem sou eu para contrariá-los? Pois não há nada que se iguale em contentamento do que quando estou a desfrutar dos prazeres que me apetecem os sentidos. Sou hedonista de berço, direito natural do qual não abro mão, sob lei ou penitência. Se gostar de sentir prazer é pecado ou crime, podem me atirar pedras ou prender-me. Confesso, em praça pública, que não há no meu íntimo qualquer intenção, presente ou futura, de me abdicar dos atos prazerosos que inebriam e aquecem meu ser.

Há uma personagem de Clarice Lispector sobre quem ela diz se tratar de uma pessoa que não rejeita o prazer e que o recebe sem remorsos, pois sou eu. E numa crônica, afirma: Quero os melhores óleos e perfumes, quero a vida da melhor espécie, quero as esperas as mais delicadas, quero as melhores carnes finas e também as pesadas para comer (...) Ou como sentencia, sem vergonha ou pudor, Riobaldo, personagem de Guimarães Rosa: Sempre gostei do bom e do melhor.

Por que o deleite tem de vir acompanhado de culpa ou remorso? Em nome de quê o recusamos quando o queremos? Que promessa é essa de depois da morte que faz que sacrifiquemos viver o prazer em vida?

...chamo imbecil aquele que tem medo de gozar, diz o escritor Albert Camus, para quem a vida deve ser experimentada e saboreada, que não admite a ideia de recusar os prazeres terrenos de agora em nome da salvação futura ou da vida eterna: Se há um pecado contra a vida, talvez não consista tanto em desesperar dela quanto em esperar outra vida, e se furtar à implacável grandeza desta.

A beleza da vida está em gozá-la, como reflete Clarice: "Quero morrer com vida. Juro que só morrerei lucrando até o último instante". 

Que mal pode haver nisso? Qual pena pode ser maior que não se dar ao luxo de sentir prazer? Não obstino em negar o que a mão pode tocar e o lábio acariciar, arremata Camus.

Sinceramente, não estou nada disposta a fugir ou a renunciar meus prazeres. Eu quero corpo, brada Belchior na canção "Coração Selvagem". Num gemido, a alma agradece. Ou como poetisa Adélia Prado: Com perdão da palavra, quero cair na vida

Clarice Lispector lembra-nos: A vida não é de se brincar porque em pleno dia se morre. E também chama a atenção para não levarmos uma vida mesquinha, pois viver de tal forma não combina com o absoluto da morte.

Por que se amesquinhar diante do prazer? 

Por que não cair de boca e de joelhos diante da suculência de uma vida que se sabe finda?

Por quê?


 

 

 

 

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