Um sonho de domingo
Manhã fria e seca de um domingo de agosto em Brasília. Havia dormido, mais uma vez, no sofá da sala, essa mania que carrego de outros tempos em que era acordada pela minha avó para que fosse dormir na cama.
Abro os olhos e... Para onde irei?
Lembrei-me de que estava em meus planos conhecer a "Casa de Chá", projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, que fora reativada, e sobre a qual tive notícias há pouco tempo.
É para lá que vou.
No caminho, seguia deslumbrada pela beleza de Brasília, atenta aos detalhes que não cansam meus olhos, mesmo a conhecendo há anos.
Perto do lugar de destino indicado pelo aplicativo de localização, fui informada por um recruta de que não havia mais espaço para colocar meu carro, pois ocorria um evento nas proximidades e o estacionamento se encontrava lotado.
Segui para outro rumo, sem decepções. Então iria para a 107 norte a fim de provar uma torta cujo anúncio vira na internet. Não sou daquelas que se "encasquetam" por ter de mudar os planos. A fé, às vezes cega, na vida, me leva a acreditar que pode ser por um bom motivo. Fui...
Àquela hora, a fome já apertava e, antes de provar o doce, precisava comer algo salgado. Percebi que estava na mesma quadra do Ernesto Café.
Ernesto Café de um de meus amores. Ah! As lembranças, o retorno ao que um dia foi e ao que fui.
Sentei-me e pedi dois pães de queijo quentinhos e um café coado. Enquanto esperava, enquanto comia, enquanto bebia, lia o livro "Por que construí Brasília", de Juscelino Kubitschek, considerado, por mim, o melhor Presidente para o Brasil que o Brasil já teve, e admirado, por mim, pela ousadia, determinação e coragem.
Fui interrompida por uma voz alta que falava, à mesa ao lado, a um casal que tratava muito bem, conversava e acariciava seu cachorro há horas, mas que não deu muita bola ao que o rapaz tinha a lhes dizer.
Ele saiu de lá e veio até mim. Suspendi a leitura para escutá-lo. Imaginei que teria entre 16 e 18 anos.
Contou-me sobre o seu sonho, que o levava a vender paçocas a tantos reais, cada, pois precisava completar o valor de "x" para efetivar a matrícula no curso de programação, pois, repetia, era o sonho dele ser programador e empreendedor.
Se me perguntarem por quanto vendia cada paçoca, não saberei dizer. Não me "assuntei" para isso, pois só conseguia prestar atenção à história daquele sonho que o movia a ir de mesa em mesa, repetindo a mesma coisa, repetindo qual era o seu sonho, a fim de vender paçocas para bancá-lo.
Disse-lhe que poderia ajudá-lo, sim!, que lhe transferiria o valor que faltava para realizar a matrícula do curso.
"Sério moça?"
Parecia não acreditar, e abriu um sorriso largo enquanto se mexia para os lados de tanto contentamento.
Estendeu-me sua mão para que lhe desse a minha. Perguntou meu nome e me disse: "Você é muito simpática."
Agradeci e desejei-lhe que conseguisse realizar o grande sonho da vida dele. E que estava feliz por poder dar minha participação.
"Se quiser me dar seu telefone posso te mandar o comprovante de minha matrícula e o pagamento."
Claro que não precisa - respondi-lhe.
"Sabe, moça, se eu me encontrar com uma pessoa de rua vou dar essas paçocas para que ela possa vender, pois agora já tenho o dinheiro que preciso."
Fiquei surpresa e emocionada com a reação daquele jovem enquanto pensava: "É sobre isso: é sobre um dar a mão ao outro e nada mais."
No caminho, de volta para casa, fazia a seguinte reflexão: Se tivesse encontrado lugar para estacionar o carro e me dirigido à "Casa de Chá" não teria a oportunidade de ajudá-lo.
Então imaginei que mudar o rumo ou mudar o plano talvez seja uma das melhores coisas que podemos fazer a nós mesmos e, também, aos outros.
Vc sendo sempre filha filha ,com esse coração enorme de bom q você tem,que Deus te abençoe te guarde ilumine proteja sempre te amo😍
ResponderExcluirParabéns! Lindo o seu gesta! Bela a sua ação. Se todos agisse dessa forma, o mundo não seria tão desigual! Luiz
ResponderExcluirExcelente, Maiara!
ResponderExcluirBeleza lição.